terça-feira, 18 de abril de 2023

1495 – A Isabela | Caonabó

Absorto, ausente, está o prisioneiro sentado na entrada da casa de Cristóvão Colombo. Tem grilhões de ferro nos tornozelos e as algemas agarram seus pulsos.
Canabó foi quem reduziu a cinzas o forte de Navidad, que o Almirante tinha levantado quando descobriu a ilha de Haiti. Incendiou o forte e matou seus ocupantes. E não só eles: nestes dois longos anos, castigou a flechadas todo espanhol que encontrou na sua comarca da serra de Cibao, por andar caçando ouro e gente.
Alonso de Ojeda, veterano das guerras contra os mouros, foi visitá-lo em plano de paz. Convidou-o a subir em seu cavalo e colocou-lhe essas algemas de metal polido que lhe atam as mãos, dizendo que essas eram as joias que usavam os reis de Castilha em seus bailes e festas.
Agora o cacique Caonabó passa os dias sentado junto à porta, com o olhar fixo na língua de luz que ao amanhecer invade o chão de terra e ao entardecer, pouco a pouco, se retira. Não move uma pestana quando Colombo passa por ali. Em compensação, quando aparece Ojeda, dá um jeito de levantar-se e cumprimenta com uma reverência o único homem que o venceu.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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