Às
seis da manhã, Barney acordou e começou a estocar o rabo dela com o
pau. Shirley fingiu estar dormindo. Barney foi estocando cada vez com
mais força. Ela se levantou, foi ao banheiro e urinou. Quando
voltou, ele tinha afastado a colcha e estocava o ar por baixo do
lençol.
– Veja,
boneca – disse. – O Monte Everest!
– Devo
fazer o café da manhã?
– Café
da manhã uma merda! Volta aqui!
Shirley
voltou e ele agarrou a cabeça dela e beijou-a. Tinha o hálito ruim
e a barba pior. Ele pegou a mão dela e colocou-a em seu pau.
– Pense
em todas as mulheres que gostariam de ter essa coisa!
– Barney,
eu não estou a fim.
– Que
negócio é esse de não estar a fim?
– Não
estou com tesão.
– Vai
ficar, boneca, vai ficar!
Dormiam
sem pijamas no verão, ele montou nela.
– Se
abre, porra! Está doente?
– Barney,
por favor...
– Por
favor o quê? Eu quero um rabo e vou ter um rabo!
Continuou
forçando com o pau até entrar nela.
– Sua
puta da porra, eu vou rasgar você!
Barney
fodia como uma máquina. Ela não sentia nada por ele. Como podia uma
mulher casar-se com um homem daqueles?, perguntava-se. Como podia
qualquer mulher viver com um homem daqueles durante três anos?
Quando se conheceram, ele não parecia tão... igual à madeira.
– Gosta
desse pescoço de peru, garota?
Todo
o peso do pesado corpo dele estava em cima dela. Suava. Não lhe deu
alívio.
– Vou
gozar, boneca, vou GOZAR!
Barney
rolou para o lado e se limpou no lençol. Shirley levantou-se, foi ao
banheiro e tomou uma ducha. Depois foi à cozinha preparar o café da
manhã. Pôs as batatas, o bacon, o café. Quebrou os ovos numa
tigela e mexeu-os. Estava de chinelas e roupão de banho. O roupão
tinha escrito “DELA”. Barney saiu do banheiro. Tinha creme de
barbear no rosto.
– Escuta,
boneca, onde estão aquelas minhas cuecas verdes de listras
vermelhas?
Ela
não respondeu.
– Escuta,
eu lhe perguntei onde estavam as cuecas?
– Não
sei.
– Não
sabe? Eu estouro meu rabo lá fora de oito a doze horas por dia e
você não sabe onde estão minhas cuecas?
– Não
sei.
– O
café está transbordando! Olha!
Shirley
apagou a chama.
– Ou
você não faz café, ou esquece o café, ou deixa ferver! Ou esquece
de comprar bacon, ou queima a porra da torrada, ou perde minhas
cuecas, ou faz alguma porra. Sempre faz alguma porra de
alguma coisa!
– Barney,
não estou me sentindo bem...
– E
sempre não está se sentindo bem! Quando diabos vai
começar a se sentir bem? Eu saio e estouro o rabo e você
fica por aí deitada lendo revistas o dia todo e sentindo pena de seu
rabo macio. Você pensa que é fácil lá fora? Compreende que
há dez por cento de desempregados? Compreende que vou lutar pelo meu
trabalho todo dia, dia após dia, enquanto você se senta numa
poltrona sentindo pena de si mesma? E tomando vinho e fumando
cigarros e falando com suas amigas? Amigas, amigos, o diabo que seja.
Pensa que é fácil pra mim lá fora?
– Sei
que não é fácil, Barney.
– Você
nem quer mais foder comigo.
Shirley
jogou os ovos mexidos na caçarola.
– Por
que não acaba de se barbear? O café logo vai estar pronto.
– Quer
dizer, por que resiste em foder comigo? Essa coisa tem borda de ouro?
Ela
mexeu os ovos como garfo. Depois pegou a escumadeira.
– É
porque eu não suporto mais você, Barney. Odeio você.
– Me
odeia? Que quer dizer?
– Quero
dizer que não suporto seu jeito de andar. Não suporto os pelos que
saem de seu nariz. Não gosto de sua voz, de seus olhos. Não gosto
de sua mente nem do seu jeito de falar. Não gosto de você.
– E
você? Que é que você tem para oferecer? Olhe pra você! Não
arranjaria emprego num puteiro de terceira classe.
– Já
tenho um.
Ele
bateu nela então, de mão aberta, no lado do rosto. Ela largou a
escumadeira, perdeu o equilíbrio, bateu no lado da pia e
recuperou-se. Pegou a escumadeira, lavou-a na pia, voltou e virou os
ovos.
– Não
quero café – disse Barney.
Shirley
apagou todas as bocas do fogão e voltou para o quarto, foi para a
cama. Ouviu-o aprontando-se no banheiro. Ela odiava até o jeito como
ele espadanava água na pia enquanto se barbeava. E quando ouvia a
escova de dentes elétrica, a ideia das cerdas na boca limpando os
dentes e gengivas dele a nauseavam. Depois vinha o som do aerossol de
cabelo. Depois silêncio. Depois a descarga.
Ele
saiu. Ela ouviu-o escolhendo uma camisa no armário. Ouviu as chaves
e os trocados dele chocalharem quando ele os colocou nos bolsos das
calças. Depois ouviu a cama ceder quando ele se sentou na beira,
calçando as meias e os sapatos. Depois a cama rangeu de novo quando
se levantou. Ela deitou-se de barriga, de cara para baixo, olhos
fechados. Sentiu-o olhando-a.
– Escuta
– ele disse –, só quero lhe dizer uma coisa: se é outro cara,
vou matar você. Entendeu?
Shirley
não respondeu. Então sentiu os dedos dele em sua nuca. Ele bateu a
cabeça dela com força no travesseiro, várias vezes.
– Me
responda! Entendeu? Entendeu? Você entendeu?
– Sim
– ela disse. – Entendi.
Ele
soltou-a. Saiu do quarto para a sala da frente. Ela ouviu a porta
fechar-se, depois ouviu-o descer os degraus. O carro estava na
estradinha de acesso, e ela ouviu-o pegar. Depois ouviu o som dele
afastando-se. Depois foi o silêncio.
Charles Bukowski, in Numa Fria
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