sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Pescoço de peru matinal

Às seis da manhã, Barney acordou e começou a estocar o rabo dela com o pau. Shirley fingiu estar dormindo. Barney foi estocando cada vez com mais força. Ela se levantou, foi ao banheiro e urinou. Quando voltou, ele tinha afastado a colcha e estocava o ar por baixo do lençol.
Veja, boneca – disse. – O Monte Everest!
Devo fazer o café da manhã?
Café da manhã uma merda! Volta aqui!
Shirley voltou e ele agarrou a cabeça dela e beijou-a. Tinha o hálito ruim e a barba pior. Ele pegou a mão dela e colocou-a em seu pau.
Pense em todas as mulheres que gostariam de ter essa coisa!
Barney, eu não estou a fim.
Que negócio é esse de não estar a fim?
Não estou com tesão.
Vai ficar, boneca, vai ficar!
Dormiam sem pijamas no verão, ele montou nela.
Se abre, porra! Está doente?
Barney, por favor...
Por favor o quê? Eu quero um rabo e vou ter um rabo!
Continuou forçando com o pau até entrar nela.
Sua puta da porra, eu vou rasgar você!
Barney fodia como uma máquina. Ela não sentia nada por ele. Como podia uma mulher casar-se com um homem daqueles?, perguntava-se. Como podia qualquer mulher viver com um homem daqueles durante três anos? Quando se conheceram, ele não parecia tão... igual à madeira.
Gosta desse pescoço de peru, garota?
Todo o peso do pesado corpo dele estava em cima dela. Suava. Não lhe deu alívio.
Vou gozar, boneca, vou GOZAR!
Barney rolou para o lado e se limpou no lençol. Shirley levantou-se, foi ao banheiro e tomou uma ducha. Depois foi à cozinha preparar o café da manhã. Pôs as batatas, o bacon, o café. Quebrou os ovos numa tigela e mexeu-os. Estava de chinelas e roupão de banho. O roupão tinha escrito “DELA”. Barney saiu do banheiro. Tinha creme de barbear no rosto.
Escuta, boneca, onde estão aquelas minhas cuecas verdes de listras vermelhas?
Ela não respondeu.
Escuta, eu lhe perguntei onde estavam as cuecas?
Não sei.
Não sabe? Eu estouro meu rabo lá fora de oito a doze horas por dia e você não sabe onde estão minhas cuecas?
Não sei.
O café está transbordando! Olha!
Shirley apagou a chama.
Ou você não faz café, ou esquece o café, ou deixa ferver! Ou esquece de comprar bacon, ou queima a porra da torrada, ou perde minhas cuecas, ou faz alguma porra. Sempre faz alguma porra de alguma coisa!
Barney, não estou me sentindo bem...
E sempre não está se sentindo bem! Quando diabos vai começar a se sentir bem? Eu saio e estouro o rabo e você fica por aí deitada lendo revistas o dia todo e sentindo pena de seu rabo macio. Você pensa que é fácil lá fora? Compreende que há dez por cento de desempregados? Compreende que vou lutar pelo meu trabalho todo dia, dia após dia, enquanto você se senta numa poltrona sentindo pena de si mesma? E tomando vinho e fumando cigarros e falando com suas amigas? Amigas, amigos, o diabo que seja. Pensa que é fácil pra mim lá fora?
Sei que não é fácil, Barney.
Você nem quer mais foder comigo.
Shirley jogou os ovos mexidos na caçarola.
Por que não acaba de se barbear? O café logo vai estar pronto.
Quer dizer, por que resiste em foder comigo? Essa coisa tem borda de ouro?
Ela mexeu os ovos como garfo. Depois pegou a escumadeira.
É porque eu não suporto mais você, Barney. Odeio você.
Me odeia? Que quer dizer?
Quero dizer que não suporto seu jeito de andar. Não suporto os pelos que saem de seu nariz. Não gosto de sua voz, de seus olhos. Não gosto de sua mente nem do seu jeito de falar. Não gosto de você.
E você? Que é que você tem para oferecer? Olhe pra você! Não arranjaria emprego num puteiro de terceira classe.
Já tenho um.
Ele bateu nela então, de mão aberta, no lado do rosto. Ela largou a escumadeira, perdeu o equilíbrio, bateu no lado da pia e recuperou-se. Pegou a escumadeira, lavou-a na pia, voltou e virou os ovos.
Não quero café – disse Barney.
Shirley apagou todas as bocas do fogão e voltou para o quarto, foi para a cama. Ouviu-o aprontando-se no banheiro. Ela odiava até o jeito como ele espadanava água na pia enquanto se barbeava. E quando ouvia a escova de dentes elétrica, a ideia das cerdas na boca limpando os dentes e gengivas dele a nauseavam. Depois vinha o som do aerossol de cabelo. Depois silêncio. Depois a descarga.
Ele saiu. Ela ouviu-o escolhendo uma camisa no armário. Ouviu as chaves e os trocados dele chocalharem quando ele os colocou nos bolsos das calças. Depois ouviu a cama ceder quando ele se sentou na beira, calçando as meias e os sapatos. Depois a cama rangeu de novo quando se levantou. Ela deitou-se de barriga, de cara para baixo, olhos fechados. Sentiu-o olhando-a.
Escuta – ele disse –, só quero lhe dizer uma coisa: se é outro cara, vou matar você. Entendeu?
Shirley não respondeu. Então sentiu os dedos dele em sua nuca. Ele bateu a cabeça dela com força no travesseiro, várias vezes.
Me responda! Entendeu? Entendeu? Você entendeu?
Sim – ela disse. – Entendi.
Ele soltou-a. Saiu do quarto para a sala da frente. Ela ouviu a porta fechar-se, depois ouviu-o descer os degraus. O carro estava na estradinha de acesso, e ela ouviu-o pegar. Depois ouviu o som dele afastando-se. Depois foi o silêncio.

Charles Bukowski, in Numa Fria

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