segunda-feira, 4 de julho de 2022

A mandioca

Nenhum homem a tinha tocado, mas um menino cresceu no ventre da filha do chefe.
O chamaram Mani. Poucos dias depois de nascer, já corria e conversava. Dos mais remotos rincões da selva, veio gente para conhecer o prodigioso Mani.
Não sofreu nenhuma doença, mas ao cumprir um ano disse: “Vou morrer”; e morreu.
Passou um tempinho e uma planta jamais vista brotou na sepultura de mani, que a mãe regava cada manhã. A planta cresceu, floresceu, deu frutos. Os pássaros que a picavam andavam depois aos trambolhos pelo ar, batendo asas em espirais loucas e cantando como nunca.
Um dia a terra se abriu onde Mani jazia.
O chefe afundou a mão e arrancou uma raiz grande e carnuda. Ralou-a com uma pedra, fez uma pasta, espremeu-a e no amor do fogo cozinhou pão para todos.
Chamaram essa raiz de Mani Oca, “casa de Mani”, e mandioca é seu nome na bacia amazônica e outros lugares.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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