sábado, 19 de março de 2022

Da cor do pecado | Bororó, 1939


Lançado em 1939 por Sílvio Caldas, um dos cantores mais populares do Brasil, então vivendo o auge de seu sucesso e sua técnica, este samba surpreende por sua harmonia sofisticada e a sensualidade de sua letra. À frente de sua época na forma como tratou a paixão carnal, de “beijo molhado”, musicalmente, “Da cor do pecado” também antecipou alguns dos fundamentos estéticos consolidados pela bossa nova. Surpreende ainda por ser uma das poucas composições conhecidas de Bororó, o carioca Alberto de Castro Simões da Silva (1898-1986), que começou a carreira quando o samba engatinhava e se manteve em atividade até o fim da vida. Sobrinho da Marquesa de Santos, ainda criança aprendeu violão com o pai e marcou presença nos saraus familiares cantando modinhas com letras de Castro Alves e Casimiro de Abreu. No início dos anos 1920, assinou suas primeiras composições para ranchos carnavalescos do Rio.
Bororó é também o autor de pelo menos mais um clássico, “Curare”, este lançado em 1940 por Orlando Silva e, assim como o anterior, regravado por João Gilberto. Reconhecido pelo faro apurado para pescar no passado sambas esquecidos, no caso de “Da cor do pecado” João chegou depois, o que só confirma a excelência da composição de Bororó. Ele incluiu o samba no repertório de Eu sei que vou te amar, gravado ao vivo em 1994, voltando a ele no disco Voz e violão, produzido por Caetano Veloso em 1999. Bem depois, por exemplo, da versão feita por Elis Regina no álbum Elis especial, lançado em 1968.
Em 1977, Ney Matogrosso seria outro seduzido pelos versos e pelos sinuosos requebros do samba de Bororó, que foi um dos destaques no disco Pecado. Entre os intérpretes da MPB que também gravaram “Da cor do pecado” estão Nara Leão, Fagner e Cauby Peixoto.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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