Esse
mês, faz oito anos que você morreu.
Que
ideia, Nega! Puta merda! A gente nem tinha feito aquela viagem das
amigas e você me vai, pega e morre. Que porcaria para fazer em pleno
domingo!
Enfim,
isso já te falei várias vezes, mas você nunca mudou de ideia e
voltou, o que me leva a acreditar que o céu deve mesmo ser bacana.
Aliás,
vira e mexe eu te pergunto umas coisas.
Se
devia investir nessa relação com o bonitão que conheci no Natal,
se vai dar muito errado se eu pedir demissão do emprego, se devo ou
não devo comprar o jeans de cintura alta (você me traumatizou
duplamente naquele fim de semana de abril de 2007 – um porque
morreu, dois porque na sexta-feira eu te mostrei meu jeans novo e
você falou que era “ok, mas tinha um quê de baile funk”).
Às
vezes até acho que você responde. Tento interpretar sonhos, fico
achando que no metrô tinha alguém com seu perfume, reparo que na
primeira página do jornal posso encontrar, espalhadas, as letras que
formam seu nome. Acho que são sinais, só não sei do quê.
Mas
outras vezes acho que você não tá nem aí com a piciroca. Tipo
aquelas vezes em que a gente vai para uma praia paradisíaca com um
novo paquera maravilhoso e simplesmente desencana de todo mundo?
Amigos, chefe, contador. E-mail, WhatsApp, carta na garrafa.
Às
vezes acho que tá tão da hora aí no céu que você só dá uma
olhada na gente de vez em quando, vê que tá tudo sob controle (ou
pelo menos ok, que nem a minha calça) e continua aí sassaricando e
tal.
Mas,
sério, me bateu uma preocupação. A gente precisa conversar sobre
um assunto sério. E dessa vez você precisa responder. Eu andei
perdendo o sono por causa desse negócio. A gente precisa conversar
sobre lasanha, Nega.
Era
nosso melhor programa de noite de inverno: filme repetido e lasanha
congelada. A vida fazia tanto sentido, e você me aprontou essa de
morrer. Mas agora eu preciso saber. Me fala: tem lasanha no céu,
Preta?
É
sério. Eu me viro com os romances, as crises na carreira e na
família, tudo bem, mas não posso ficar com essa angústia. Sem
saber se tem ou não tem lasanha no céu, não dá pra estabelecer
quanto medo tenho da morte.
Sério
mesmo, eu preciso de uma resposta sua. Vou esperar e sei que você
não me decepcionará. Já me basta ter morrido.
Ruth Manus, in Pega lá uma chave de fenda: e outras divagações sobre o amor
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