Mão
organizada por naipes de cores intercaladas.
Ao
menos isso estava em ordem.
Copas,
paus, ouros, espadas. Trinta e nove minutos de jogo.
Entre
uma jogada e outra, ela se perguntava que rumo era aquele que sua
vida estava tomando.
Até
o jogo se ajeitava em menos de uma hora. E ela, nada.
Havia
cinco rodadas que segurava aquela dama de paus. Era a canastra limpa
da outra dupla.
Já
seus enroscos, segurava do jeito que podia. Não sabia se por amor,
por medo, por vício.
Comprou
uma dama de copas. Já tinha o valete na mão. Na mesa, cinco, seis,
sete, oito, nove. Mas o dez… O dez, nada.
Ficou
segurando o casal. Segurar o casal. Ela sabia como era. Segurar sem
muita certeza de que em algum momento aquilo realmente faria algum
sentido.
Tinha
um coringa. Descartar um coringa é sacrilégio. Quem dera fosse
assim só nas cartas. Sempre nos faltará coragem para descartar um
coringa.
Ela
estava cansada. Cansada de comprar, analisar, acomodar. Cansada de
segurar o que não lhe servia só para que ninguém comprasse seu
lixo.
A
mão estava cheia, e isso não significava que nada estivesse
minimamente preenchido.
Comprou
de novo. Outra dama. De copas. Não sei pra que tanto coração.
Tanta mulher com coração. Não sei pra quê.
Duas
rodadas depois, encaixou um sete besta ali, um quatro de ouros lá.
Tá
cheio de sete besta por aí.
Uma
rodada depois, cansou de esperar o dez. Tem muito dez que nunca vem.
Baixou
três damas em lavadeira.
Juntou
o coringa com o valete, depois do nove.
Descartou
um rei de paus. Há uma certa dignidade no descarte de um rei.
Bateu.
Canastra
suja não ganha jogo?
Ainda
ia pegar o morto.
Volta
ou outra, o morto é mais interessante do que aquilo que a gente tem
na mão.
Ruth Manus, in Pega lá uma chave de fenda: e outras divagações sobre o amor
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