O pai, ao ver a multa por infração ao
rodízio municipal de veículos, vira-se para o filho de dezenove
anos e diz:
– Rafael, você saiu com o carro no dia
do rodízio, né?
A resposta, livre de qualquer
agressividade, foi mais natural que suco verde:
– Teu cu que eu saí com o carro no
rodízio, pai.
A mãe, que trabalhava no notebook na
mesa da sala, gritou:
– RAFAEEEEEEL! O que é isso?
– Mãe, eu não saí no rodízio,
sério! Nem uma vez!
– Não é disso que eu estou falando!
Isso é jeito de falar com seu pai?
– Que jeito?!
– Não se faça de besta, Rafael!
– Sério, mãe, que que eu falei?
– Você falou… Você falou… Wagner,
você não fala nada?!
– Teu cu. Teu cu, Rafael. Você me
falou “teu cu”.
– HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.
Foi mal, pai. Foi sem querer.
A mãe com olhar severo e penetrante. O
pai segurando o riso.
– Sério, mãe, eu nem percebi.
– Pior ainda, Rafael. Que horror.
Sinceramente, que horror.
– Foi mal, mãe. Foi “teu cu” no
sentido de “nem a pau”.
– RAFAEL!!!
– Caralho, mãe, “nem a pau” também
não pode?!
– Nem “caralho”, Rafael.
– Foi mal. Foi mal, pai.
A mãe levantou a sobrancelha. Suspirou
como só as mães aborrecidas sabem suspirar. Voltou para a planilha
de Excel.
Passaram-se vinte minutos. O menino
volta, pega a chave do carro na mesa, diz:
– Vou de carro até a casa do Cebola,
beleza?
E o pai, sem pensar duas vezes, sobe os
olhos do jornal.
– Nem fodendo que você vai de carro
pra Alphaville.
– WAAAAAGNER!!!!!!!
Ruth Manus, in Pega lá uma chave de fenda: e outras divagações sobre o amor
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