É
preciso não acreditar nos números da pesquisa. E isso porque as
pessoas religiosas respondem de acordo com aquilo que sua ideologia
religiosa as obriga a dizer. Perdão, Fernando Pessoa, pelo que vou
fazer com os teus versos: “O religioso é um fingidor. Finge tão
completamente que chega a fingir que é gozo a dor que deveras
sente...”. A religião dos pentecostais e evangélicos é uma
religião que promete felicidade. Cristo dá paz àqueles que o têm
no coração e resolve pelo milagre (a bênção!) os seus problemas.
Se ele disser que não está feliz, ou a sua religião é falsa, não
cumprindo o que promete, ou ele não tem Cristo no coração. A
ideologia católica permite confessar-se infeliz, porque nosso mundo
é mesmo um vale de lágrimas. Felicidade só no céu. O mesmo vale
para os protestantes. Um dos seus hinos diz: “Não há dor que seja
sem divino fim...”. E a ideologia espírita vê o sofrimento como
instrumento do carma para promover a evolução. “Bendita a dor que
me purifica a alma”, dizia a mulher espírita no sofrimento do seu
câncer. Já os sem religião, por não estarem amarrados a uma
ideologia que os obrigue, têm mais liberdade para reconhecer o
sofrimento como sofrimento. Mas não sei se é vantajoso sofrer
cientificamente. No sofrimento da dor eu não quero a realidade.
Quero mesmo é a felicidade dentro de uma ampola.
Rubem Alves,
in Do
universo à jabuticaba
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