Era
uma vez um ovo. Já disse alguém, talvez tenha sido eu mesmo, que o
ovo é a mais perfeita forma da Criação. Assim vivia ele,
elipsoidal e único, sereno como se tivesse atingido o Nirvana ou
essa ausência de si a que alguns fanáticos chamam estranhamente de
meditação, e ainda por cima transcendental. Nada disso! Tão
consciente ele era que, sendo ovo de galinheiro, tinha um receio
pavoroso de ficar choco e virar uma dessas aves cacofônicas — as
únicas, em toda a natureza, que cantam sem música, pois até mesmo
o pássaro-ferreiro, na sua estridência, tem uma bela harmonia
metálica. Pensando nesse perfeito e inquieto ovo é que acabo de
pedir uma omelete no restaurante. Talvez ele faça parte do conteúdo
dela... Antes assim, meu amigo, antes assim!
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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