No
degrau da rua,
a
moça pinta as unhas.
Dobrado
em lua,
seu
corpo tem a delicada intenção do ourives:
na
decimal tela das mãos
inventa
lábios
que
o destino virá beijar.
Fadigosa
obra,
tão
incontáveis os dedos da vaidade.
A
moça demora-se
mais
que a derradeira luz
e
as velhas passam e benzem-se,
limpando
lembranças
de
suas primeiras mãos.
Afinal,
não é o corpo
o
que a menina pinta.
O
verniz vermelho,
como
salpicados coágulos,
lhe
amortalha o gesto.
Debaixo
da tinta
uma
morte se oculta:
a
sua,
de
menina tão menina
que
nem precisava de ser linda.
Mia
Couto
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