sábado, 22 de junho de 2019

Uma abordagem bem-sucedida

Logo depois entrou no café uma moça de calça de veludo. Dirigiu-se ao balcão, esperou seu refrigerante e foi bebê-lo. Parou em uma mesa vizinha à nossa e bebeu sem se sentar.
Martin virou-se para ela: — Senhorita — disse ele —, não somos daqui e gostaríamos de lhe perguntar uma coisa.
A moça sorriu. Era muito bonita.
Estamos sufocando de calor e não sabemos o que fazer...
Vão tomar um banho!
Justamente. Não sabemos onde se pode tomar um banho nesta cidade.
Não existe nenhum lugar.
Como?
Existe uma piscina, mas está vazia há um mês.
E o rio?
Está sendo dragado.
Então onde podemos nos banhar?
Só existe o lago Hoter, mas fica a pelo menos sete quilômetros daqui.
Não tem importância, estamos de carro. Bastaria que nos guiasse.
Você seria nosso navegador — disse eu.
Ou melhor, nosso piloto — disse Martin.
E nossa estrela — disse eu.
A moça, tonta com esse falatório, aceitou finalmente nos acompanhar; mas ainda tinha de fazer compras e era preciso que fosse buscar o maio; marcamos encontro para dentro de uma hora exatamente no mesmo lugar.
Estávamos contentes. Ficamos olhando-a se afastar balançando lindamente o traseiro e sacudindo os cachos de seus cabelos pretos.
Você está vendo — disse Martin —, a vida é curta, é preciso aproveitar cada minuto.
Milan Kundera, in Risíveis Amores

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