Já o Jander tinha
quatorze anos, a cara cheia de espinhas e como se não bastasse isso,
inventou de estudar violino.
- Violino?! -
horrorizou-se a família.
- É.
- Mas Jander...
- Olha que eu tenho
um ataque.
Sempre que era
contrariado, o Jander se atirava no chão e começava a espernear.
Compraram um violino para ele.
O Jander dedicou-se
ao violino obsessivamente. Ensaiava dia e noite.
Trancava-se no
quarto para ensaiar. Mas o som do violino atravessava portas e
paredes. O som do violino se espalhava pela vizinhança.
Um dia a porta do
quarto do Jander se abriu e entrou uma moça com um copo de leite.
- Quié? - disse o
Jander, antipático como sempre.
- Sua mãe disse
que é para você tomar este leite. Você quase não jantou.
- Quem é você?
- A nova empregada.
Seu nome era
Vandirene. Na quadra de ensaios da escola era conhecida como "Vandeca
Furacão".
Ela botou o copo de
leite sobre a mesa-de-cabeceira, mas não saiu do quarto.
Disse:
- Bonito, seu
violino.
E depois:
- Me mostra como se
segura?
Depois a vizinhança
suspirou aliviada. Não se ouviu mais o som do violino aquela noite.
O pai de Jander
reuniu-se com os vizinhos.
- Parece que deu
certo.
- É.
- Não vão
esquecer o nosso trato.
- Pode deixar.
No fim do mês
todos se cotizariam para pagar o salário da Vandirene. A mãe do
Jander não ficou muito contente. Pobre do menino. Tão moço. Mas
era a Vandirene ou o violino.
- E outra coisa -
argumentou o pai do Jander. - Vai curar as espinhas.
Luís Fernando
Veríssimo, in Comédias para se ler na escola
Nenhum comentário:
Postar um comentário