Quando
eu era jovem, a menor unidade do meu pensamento era o universo e a
eternidade. Eu vivia no mundo dos deuses. Não havia percebido que
meus deuses tinham pés de barro. Seus pés se esfarelaram, eles
caíram e eu fiquei mais modesto. Troquei-os pelos heróis da
política. Deixei os céus para os pardais e tornei-me um habitante
do mundo. O marxismo era a grande religião. Ao envelhecer, dei-me
conta de que também a política era muito grande para mim.
Encolhi-me mais uma vez. Voltei ao meu corpo. É no corpo que vivo
meu cotidiano. O corpo só conhece o presente.
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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