Susana e os anciãos (1653), de de Jacob Jordaens
Os
cães habitam quadros célebres, como elementos acessórios de
composição, mas para quem gosta de animais eles constituem o
próprio tema da obra de arte. E mesmo para simples observadores da
vida.
Um
pintor renascentista que escolheu como assunto o banho de Susana
surpreendida pelos velhos teve ideia de colocar um cão como guarda
da pudicícia da banhista. O animal avança, irado, contra um dos
anciãos indiscretos, que recua tomado de justo medo. Em face da
determinação do cachorro e do susto do velho, a nudez de Susana
torna-se secundária. O cão roubou a cena e seu significado bíblico.
A mulher poderia até sair à rua assim como estava, sem que fosse
notada, pois o interesse dos passantes havia de concentrar-se na
perseguição do homem pelo cão, e em apostar quem levaria a melhor.
Requinte
do artista, nem sempre observado pela crítica, é a decepção que
se estampa no rosto de Susana. Ser vista na intimidade por olhos
lúbricos não a afeta. O que a desaponta é ver o cão tornar-se
mais importante que a sua nudez.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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