quarta-feira, 6 de julho de 2016

Explicações que ofendem

O rei estava reunido com o seu ministério e tratava de dar explicações duvidosas para uns gastos com banquetes gastronômicos. Os ministros, sem acreditar, faziam de conta que acreditavam. Mas o bobo, um dos ministros do rei (todo governo deveria ter um bobo da corte...), deu uma risadinha e comentou em voz alta: “Majestade, há explicações que são piores que uma ofensa...”. O rei ficou furioso, expulsou o bobo e declarou que, se ele não explicasse essa declaração absurda até o fim do dia, iria passar uma semana no calabouço. O bobo sumiu. O rei, cansado, ao fim de um dia de explicações, ia sozinho por um corredor do palácio, corredor esse decorado com grandes colunas de mármore. Atrás de uma delas estava o bobo escondido, pronto a provar sua tese. Quando o rei passou, o bobo pulou e agarrou as nádegas do rei. O rei deu um grito de susto e raiva. E o bobo se desculpou: “Perdão, Majestade, eu pensei que fosse a rainha...”. Estava provada a tese de que há explicações que são piores que uma ofensa.
Rubem Alves, in Ostra feliz não faz pérola

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