O
rei estava reunido com o seu ministério e tratava de dar explicações
duvidosas para uns gastos com banquetes gastronômicos. Os ministros,
sem acreditar, faziam de conta que acreditavam. Mas o bobo, um dos
ministros do rei (todo governo deveria ter um bobo da corte...), deu
uma risadinha e comentou em voz alta: “Majestade, há explicações
que são piores que uma ofensa...”. O rei ficou furioso, expulsou o
bobo e declarou que, se ele não explicasse essa declaração absurda
até o fim do dia, iria passar uma semana no calabouço. O bobo
sumiu. O rei, cansado, ao fim de um dia de explicações, ia sozinho
por um corredor do palácio, corredor esse decorado com grandes
colunas de mármore. Atrás de uma delas estava o bobo escondido,
pronto a provar sua tese. Quando o rei passou, o bobo pulou e agarrou
as nádegas do rei. O rei deu um grito de susto e raiva. E o bobo se
desculpou: “Perdão, Majestade, eu pensei que fosse a rainha...”.
Estava provada a tese de que há explicações que são piores que
uma ofensa.
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
Nenhum comentário:
Postar um comentário