segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O texto pede renovação

Tem coisas que não me perdoo. Ganhei o prêmio Jabuti com um livro chamado Ciganos. Quando escrevi Ciganos, viajei para a Europa e estava no norte de Portugal com o sul da Espanha. O livro tinha acabado de sair no Brasil. Entrei em um acampamento de ciganos espanhóis e uma cigana veio e me perguntou: “Queres ver a tua sina?”. Eu pensei: escrevi o Ciganos e não usei uma única vez a palavra “sina”. Tive um arrependimento de me matar. Como é que você escreve um texto sobre os ciganos e não coloca a palavra sina? Aí, fiz um propósito de nunca mais ler nada meu depois de impresso. Não leio nada porque vou querer escrever de novo, porque já sou outro. A literatura tem uma capacidade tão grande de nos renovar que o texto que escrevi ontem não me serve para o hoje.
Bartolomeu Campos de Queirós, in Palestra no Teatro do Paiol, Curitiba - PR

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