Tem
coisas que não me perdoo. Ganhei o prêmio Jabuti com um livro
chamado Ciganos. Quando escrevi Ciganos, viajei para a Europa e estava no norte de Portugal com o sul da
Espanha. O livro tinha acabado de sair no Brasil. Entrei em um
acampamento de ciganos espanhóis e uma cigana veio e me perguntou:
“Queres ver a tua sina?”. Eu pensei: escrevi o Ciganos e não usei uma única vez a palavra “sina”. Tive um arrependimento
de me matar. Como é que você escreve um texto sobre os ciganos e
não coloca a palavra sina? Aí, fiz um propósito de nunca mais ler
nada meu depois de impresso. Não leio nada porque vou querer
escrever de novo, porque já sou outro. A literatura tem uma
capacidade tão grande de nos renovar que o texto que escrevi ontem
não me serve para o hoje.
Bartolomeu
Campos de Queirós,
in Palestra no Teatro do Paiol, Curitiba - PR
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