quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A nuance é o Intratável

“Ao longo de uma vida, todos os ‘fracassos’ de amor se parecem (pudera: procedem todos da mesma falha). X… e Y… não souberam (puderam, quiseram) responder ao meu ‘pedido’, aderir à minha ‘verdade’; não mexeram uma vírgula do seu sistema; para mim, um não fez senão repetir o outro. E, entretanto, X… e Y… são incomparáveis; é da diferença entre eles, modelo de uma diferença infinitamente reconduzida, que retiro a energia para recomeçar. A ‘mutabilidade perpétua’ (in inconstantia constans) que me anima, longe de esmagar todos aqueles que encontro sob um mesmo tipo funcional (não responder ao meu pedido), desloca com violência seu falso ponto em comum: a errância não iguala, faz mudar de cor: o que volta é a nuance. É assim que vou até o fim da tapeçaria, de uma nuance a outra (a nuance é esse último estado da cor que não pode ser nomeado; a nuance é o Intratável).”
Roland Barthes, in Fragmentos de um discurso amoroso

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