sábado, 19 de janeiro de 2013

Futilidade: às vezes útil


Um acontecimento inesperado pôs termo a essa situação difícil: o mordomo anunciou a chegada de Sítnikov.
É difícil expressar em palavras a maneira movimentada e rumorosa com que entrou na sala o jovem progressista. Teimoso como era, tendo resolvido visitar uma senhora que mal conhecia e que nunca o convidara, mas que recebia em sua casa, conforme lhe disseram, homens inteligentes e seus conhecidos, tinha muito medo nesse momento e se sentia atrapalhado. Em vez de saudações e desculpas previamente decoradas, disse uma tolice mais ou menos assim: “Avdótia Kúkchina mandou saber como passa Ana Serguêievna, de quem Arcádio Nicoláievitch sempre falou muito bem...”. Aqui se calou e ficou tão atrapalhado, que se sentou no próprio chapéu. Entretanto, como ninguém tentasse expulsá-lo, e Ana Serguêievna até o apresentou à tia e à irmã, retomou logo o domínio de si mesmo e foi tagarelando por mil. O aparecimento da futilidade costuma ser às vezes útil na vida: afrouxa as cordas demasiado tensas e arrefece os sentimentos muito fortes e duradouros ou passageiros, lembrando-lhes o estreito parentesco existente entre ambos. Com a chegada de Sítnikov tudo ficou mais banal, vazio e simples. Todos cearam com mais apetite e foram dormir meia hora antes do costume.
Ivan Turgueniev, in Pais e Filhos

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