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3 ]
Charles
ansiava pela volta de Adam depois de cinco anos. Pintou a casa e o
celeiro e, quando a ocasião se aproximou, chamou uma mulher para
limpar a casa, limpá-la até os ossos.
Era
uma mulher velha, limpa e rigorosa. Olhou para as cortinas podres
acinzentadas de poeira, jogou-as fora e fez cortinas novas. Arrancou
do fogão a graxa que se acumulara desde que a mãe de Charles
morrera. E eliminou das paredes o tom marrom lustroso e desagradável
depositado por gordura de cozinha e querosene de lampiões. Limpou os
assoalhos com lixívia, ensopou os cobertores em uma solução de
soda, queixando-se o tempo todo para si mesma. “Estes homens são
uns animais sujos. Até os porcos são mais limpos. Apodrecem em sua
própria sujeira. Não entendo como as mulheres se casam com eles.
Fedem como pústulas. Vejam só o forno — gordura do tempo de
Matusalém.”
Charles
mudou-se para um barracão onde suas narinas não seriam assaltadas
pelos cheiros imaculados mas dolorosos da lixívia, da soda, da
amônia e do sabão amarelo. Ficou, porém, com a impressão de que
ela não aprovava a sua maneira de cuidar da casa. Quando finalmente
a mulher se foi resmungando da casa cintilante, Charles permaneceu no
barracão. Queria manter a casa limpa para Adam. No barracão onde
dormia ficavam as ferramentas da fazenda e o equipamento para o seu
reparo e manutenção. Charles descobriu que podia preparar suas
refeições fritas e cozidas mais rápida e eficientemente na forja
do que no fogão da cozinha. Os foles puxavam um calor mais rápido e
mais forte do carvão de coque. Não era preciso esperar que o fogão
aquecesse. Ele se perguntou por que nunca pensara naquilo antes.
Charles
esperou por Adam, e Adam não veio. Talvez Adam tivesse vergonha de
escrever. Foi Cyrus quem contou a Charles numa carta zangada sobre o
realistamento de Adam contra a sua vontade. E Cyrus indicou que, a
certa altura no futuro, Charles poderia visitá-lo em Washington, mas
nunca mais o convidou.
Charles
voltou para a casa e viveu numa espécie de sujeira selvagem,
sentindo uma satisfação em estragar o trabalho da mulher
resmungona.
Levou
um ano até que Adam escrevesse para Charles — uma carta noticiosa
e constrangida tomando coragem para dizer: “Não sei por que me
engajei de novo no Exército. Era como se outra pessoa tivesse feito
aquilo. Escreva logo e me conte como vai você.”
Charles
só escreveu depois de receber quatro cartas ansiosas e respondeu
friamente: “Eu dificilmente esperava que você voltasse”, e
prosseguia com um relatório detalhado sobre a fazenda e os animais.
O
tempo foi exercendo os seus efeitos. Depois disso, Charles escreveu
logo depois do Ano Novo e recebeu uma carta de Adam escrita logo após
o Ano-Novo. Tinham se distanciado tanto que houve pouca referência
mútua e nenhuma pergunta.
Charles
começou a se juntar com uma sucessão de mulheres desleixadas.
Quando elas lhe davam nos nervos, ele as jogava fora como se vendesse
um porco. Não gostava delas e não tinha nenhum interesse de que
gostassem dele. Foi se afastando do vilarejo. Seus únicos contatos
eram com a estalagem e o agente do correio. O pessoal do vilarejo
podia denunciar seu modo de vida, mas uma coisa ele possuía que
equilibrava sua vida feia, mesmo aos olhos deles. A fazenda nunca
fora tão bem administrada. Charles limpou a terra, construiu seus
muros, aperfeiçoou a drenagem e acrescentou uns quarenta hectares à
propriedade. Mais do que isso, começou a plantar tabaco, e um
celeiro novo e comprido para o tabaco elevou-se de maneira
impressionante atrás da casa. Por essas coisas ele manteve o
respeito dos seus vizinhos. Um fazendeiro não pode pensar mal demais
de um bom fazendeiro. Charles gastava a maior parte do seu dinheiro e
toda a sua energia na fazenda.
John Steinbeck, em A leste do Éden
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