sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

A leste do Éden | 6


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Charles ansiava pela volta de Adam depois de cinco anos. Pintou a casa e o celeiro e, quando a ocasião se aproximou, chamou uma mulher para limpar a casa, limpá-la até os ossos.
Era uma mulher velha, limpa e rigorosa. Olhou para as cortinas podres acinzentadas de poeira, jogou-as fora e fez cortinas novas. Arrancou do fogão a graxa que se acumulara desde que a mãe de Charles morrera. E eliminou das paredes o tom marrom lustroso e desagradável depositado por gordura de cozinha e querosene de lampiões. Limpou os assoalhos com lixívia, ensopou os cobertores em uma solução de soda, queixando-se o tempo todo para si mesma. “Estes homens são uns animais sujos. Até os porcos são mais limpos. Apodrecem em sua própria sujeira. Não entendo como as mulheres se casam com eles. Fedem como pústulas. Vejam só o forno — gordura do tempo de Matusalém.”
Charles mudou-se para um barracão onde suas narinas não seriam assaltadas pelos cheiros imaculados mas dolorosos da lixívia, da soda, da amônia e do sabão amarelo. Ficou, porém, com a impressão de que ela não aprovava a sua maneira de cuidar da casa. Quando finalmente a mulher se foi resmungando da casa cintilante, Charles permaneceu no barracão. Queria manter a casa limpa para Adam. No barracão onde dormia ficavam as ferramentas da fazenda e o equipamento para o seu reparo e manutenção. Charles descobriu que podia preparar suas refeições fritas e cozidas mais rápida e eficientemente na forja do que no fogão da cozinha. Os foles puxavam um calor mais rápido e mais forte do carvão de coque. Não era preciso esperar que o fogão aquecesse. Ele se perguntou por que nunca pensara naquilo antes.
Charles esperou por Adam, e Adam não veio. Talvez Adam tivesse vergonha de escrever. Foi Cyrus quem contou a Charles numa carta zangada sobre o realistamento de Adam contra a sua vontade. E Cyrus indicou que, a certa altura no futuro, Charles poderia visitá-lo em Washington, mas nunca mais o convidou.
Charles voltou para a casa e viveu numa espécie de sujeira selvagem, sentindo uma satisfação em estragar o trabalho da mulher resmungona.
Levou um ano até que Adam escrevesse para Charles — uma carta noticiosa e constrangida tomando coragem para dizer: “Não sei por que me engajei de novo no Exército. Era como se outra pessoa tivesse feito aquilo. Escreva logo e me conte como vai você.”
Charles só escreveu depois de receber quatro cartas ansiosas e respondeu friamente: “Eu dificilmente esperava que você voltasse”, e prosseguia com um relatório detalhado sobre a fazenda e os animais.
O tempo foi exercendo os seus efeitos. Depois disso, Charles escreveu logo depois do Ano Novo e recebeu uma carta de Adam escrita logo após o Ano-Novo. Tinham se distanciado tanto que houve pouca referência mútua e nenhuma pergunta.
Charles começou a se juntar com uma sucessão de mulheres desleixadas. Quando elas lhe davam nos nervos, ele as jogava fora como se vendesse um porco. Não gostava delas e não tinha nenhum interesse de que gostassem dele. Foi se afastando do vilarejo. Seus únicos contatos eram com a estalagem e o agente do correio. O pessoal do vilarejo podia denunciar seu modo de vida, mas uma coisa ele possuía que equilibrava sua vida feia, mesmo aos olhos deles. A fazenda nunca fora tão bem administrada. Charles limpou a terra, construiu seus muros, aperfeiçoou a drenagem e acrescentou uns quarenta hectares à propriedade. Mais do que isso, começou a plantar tabaco, e um celeiro novo e comprido para o tabaco elevou-se de maneira impressionante atrás da casa. Por essas coisas ele manteve o respeito dos seus vizinhos. Um fazendeiro não pode pensar mal demais de um bom fazendeiro. Charles gastava a maior parte do seu dinheiro e toda a sua energia na fazenda.

John Steinbeck, em A leste do Éden

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