sábado, 16 de novembro de 2024

A cada um sua Quimera


Sob um pesado céu cinzento, numa planície ampla e empoeirada, sem caminhos, sem gramado, sem sequer um cardo, sem uma única urtiga, encontrei vários homens que marchavam encurvados.
Cada qual trazia nas costas uma enorme Quimera, pesada como um saco de farinha ou de carvão, ou como o equipamento de um soldado romano.
Mas a monstruosa besta não ficava um centímetro parada; ao contrário, ela cobria e oprimia o homem com seus músculos elásticos e vigorosos; ela se cravava com suas enormes garras ao tórax da sua montaria; e sua cabeça fabulosa coroava a fronte do homem, como um desses elmos horríveis usados por antigos guerreiros a fim de aumentar o terror dos inimigos.
Dirigi-me a um desses homens e perguntei aonde iam dessa forma. Ele me respondeu que nada sabia, nem ele e nem os outros; mas que iam evidentemente a algum lugar, pois eram levados por uma invencível necessidade de marchar.
Coisa curiosa: nenhum desses viajantes parecia incomodado com a besta feroz que trazia nas costas, agarrada ao seu pescoço; dir-se-ia que a consideravam como uma parte deles mesmos. Todos esses semblantes carregados e sérios não testemunhavam nenhum desespero; sob a cúpula do céu melancólico, com os pés chafurdados na poeira de um chão não menos desolado que o céu, eles avançavam com o olhar resignado daqueles cuja condenação é esperar sempre.
E o cortejo passou por mim e desapareceu na atmosfera do horizonte, aquele lugar em que a superfície arredondada do planeta se furta à curiosidade do olhar humano.
E durante alguns instantes, não pude deixar de cismar com aquele mistério; mas logo a irresistível Indiferença caiu sobre mim, prostrando-me de tal maneira que a eles não os prostravam as suas debilitantes Quimeras.

Charles Baudelaire, em O spleen de Paris – Pequenos poemas em prosa

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