segunda-feira, 13 de maio de 2024

Dreamtigers

Durante a infância exerci com fervor a adoração do tigre; não o tigre esbranquiçado dos camalotes do Rio Paraná e da confusão amazônica, mas sim o tigre raiado asiático, real, a quem somente podem enfrentar os guerreiros, encastelados no dorso de um elefante.
Costumava eu demorar-me interminavelmente diante de uma das jaulas do Zoológico; e eu gostava das volumosas enciclopédias e dos livros de história natural por causa do esplendor dos seus tigres. (Ainda me recordo dessas figuras; eu, que não posso lembrar-me sem errar do rosto ou do sorriso de uma mulher). Passou a infância, e caducaram os tigres e sua paixão, porém eles ainda estão nos meus olhos. Nesta corda de rede submersa ou caótica seguem prevalecendo, e assim, se durmo, me distrai um sonho qualquer e em seguida sei que se trata de um sonho. Costumo pensar, então: este é um sonho, uma pura diversão da minha vontade, e já que tenho um poder ilimitado, vou produzir um tigre.
Oh, incompetência! Meus sonhos não sabem nunca engendrar a fera desejada. O tigre aparece, sim, porém dissecado e débil, com impuras variações de fôrma, ou de um tamanho inadmissível, ou muito fugaz, ou parecendo-se mais com um cachorro ou com um pássaro.

Jorge Luis Borges, in Livro de Sonhos

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