quarta-feira, 15 de maio de 2024

Cartas



[Para William Wantling]
1965

[...] eu fico bebendo cerveja e scotch, botando pra dentro, como que pra dentro de um grande vazio... admito que há em mim certa estupidez rochosa que não pode ser alcançada. eu fico bebendo, bebendo, sou rabugento como um buldogue velho. sempre deste jeito: pessoas despencando, caindo das banquetas, me testando, e eu as bebo de um só gole, bebo, bebo, mas realmente sem voz, nada, eu sento eu sento como um duende idiota num pinheiro esperando por um raio. quando eu tinha 18 anos eu costumava ganhar $15 ou 20 por semana em concursos de bebida e isso me mantinha vivo. até que sacaram a minha jogada. havia um merda, no entanto, chamado Fedido, que sempre era uma dureza pra mim. eu intimidava o cara às vezes bebendo um copo extra entre um e outro. eu costumava andar com uns ladrões e nós estávamos sempre bebendo num quarto vago, num quarto ainda não alugado, com luz fraca... nós nunca tínhamos lugar para ficar, mas aqueles garotos eram na maioria durões, portavam armas, mas eu não portava, eu ainda era careta, ainda sou. uma noite achei que o Fedido ia me ganhar e levantei o rosto e ele tinha sumido e eu fui vomitar e nem sequer vomitei, lá estava ele na banheira, fora fora, e eu saí e peguei o dinheiro.

Charles Bukowski, in Sobre bêbados e bebidas

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