[Para
William Wantling]
1965
[...]
eu fico bebendo cerveja e scotch, botando pra dentro, como que pra
dentro de um grande vazio... admito que há em mim certa estupidez
rochosa que não pode ser alcançada. eu fico bebendo, bebendo, sou
rabugento como um buldogue velho. sempre deste jeito: pessoas
despencando, caindo das banquetas, me testando, e eu as bebo de um só
gole, bebo, bebo, mas realmente sem voz, nada, eu sento eu sento como
um duende idiota num pinheiro esperando por um raio. quando eu tinha
18 anos eu costumava ganhar $15 ou 20 por semana em concursos de
bebida e isso me mantinha vivo. até que sacaram a minha jogada.
havia um merda, no entanto, chamado Fedido, que sempre era uma dureza
pra mim. eu intimidava o cara às vezes bebendo um copo extra entre
um e outro. eu costumava andar com uns ladrões e nós estávamos
sempre bebendo num quarto vago, num quarto ainda não alugado, com
luz fraca... nós nunca tínhamos lugar para ficar, mas aqueles
garotos eram na maioria durões, portavam armas, mas eu não portava,
eu ainda era careta, ainda sou. uma noite achei que o Fedido ia me
ganhar e levantei o rosto e ele tinha sumido e eu fui vomitar e nem
sequer vomitei, lá estava ele na banheira, fora fora, e eu saí e
peguei o dinheiro.
Charles Bukowski, in Sobre bêbados e bebidas
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