— A
minha mensagem? Nenhuma. Não sou moço de recados. Aliás por que
você não se deu ao trabalho de ler os meus versos antes de
entrevistar-me? Se os conhecesse, lembraria certamente aquele que
diz:
“Um
poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição de poema.”
Talvez
dê, este claro e misterioso verso, a pensar que o poema é algo
exterior ao poeta, uma realidade objetiva — e não relativa ao
sujeito que a expressa.
É
o que eu creio e receio.
Porque
nisto de fazer poemas o que há, para mim, é uma necessidade de
expressão e não de comunicação.
Tanto
assim que, se eu descobrisse um dia que era a única criatura
restante sobre a face da Terra, empregaria o meu longo lazer — não
necessariamente a cantar a minha situação única, mas a refazer
aqueles meus poemas que não me parecessem ainda ter recebido um
adequado tratamento expressivo, isto é, o devido trabalho técnico,
ou os que, de tão indizíveis, não me animei até agora a
defrontar.
E
é isto que dá um terrível sentido aos trabalhos do Poeta, uma
enorme responsabilidade em face da Esfinge.
Mário Quintana, in Porta giratória
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