Uma
tarde, um dos convidados disse, assim ao léu, uma coisa que nós, da
família, jamais tínhamos pensado: que podíamos cobrar entrada. Que
o que eu fazia era um espetáculo artístico de verdade.
“E
arte, amigos meus, a gente paga.”
Assim,
naquela noite, depois de conversar um par de horas com meus irmãos
maiores – ninguém me perguntou nada –, meu pai encontrou a
solução perfeita: não seria cobrada a entrada, mas se pediria uma
doação voluntária.
“É
o melhor a ser feito”, disse. Mas antes teríamos que dar uma
melhorada na sala.
No
dia seguinte pusemos mãos à obra. Meus irmãos conseguiram um banco
longo e uma cadeira velha, que consertaram na base de martelo e
prego. Além disso, pusemos na sala um par de latas de banha e também
uma caixa de cerveja e tudo que servisse para alguém sentar. Pusemos
até mesmo a grande pedra que tinha sido embutida na porta da casa,
onde meu pai, antes do acidente, se sentava para tomar sua garrafinha
de vinho.
E
a coisa começou a caminhar bem.
A
“sala” se enchia de crianças e adultos, homens e mulheres. Havia
os que iam ver o filme no cinema e depois vinham para casa para
ouvi-lo contado. Depois saíam dizendo que o filme que eu tinha
contado era melhor que o filme que tinham visto.
Animada
por causa da minha popularidade, descuidando até mesmo das tarefas
escolares, parei de ler as histórias em quadrinhos e me concentrei
apenas na revista Écran (aprendi que Écran era a tela do cinema).
Além de devorar todos os novos exemplares que chegavam na
biblioteca, li uma cordilheira de números velhos que a bibliotecária
me trouxe do depósito. Duas seções me interessavam especialmente:
“Últimas estreias” e “Fofocagens hollywoodianas”. Queria
saber absolutamente tudo sobre os filmes e as atrizes que geralmente
enfeitavam a capa da revista.
É
que eu me sentia como uma delas.
Tanto
assim, que pensei em procurar um pseudônimo. Eu era uma artista e
merecia um nome de artista.
Um
que combinasse com o que eu fazia, é claro.
Hernán Rivera Letelier, in A Contadora de Filmes
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