No
povoado, enquanto isso, as pessoas começavam a falar de mim. “É a
menina que conta filmes”, eu ouvia de vez em quando na fila do pão
ou no armazém. Ou quando passava pela rua do comércio na saída do
colégio. Mas minha popularidade se confirmou definitivamente na
tarde em que, ao voltar do cinema, vi que havia mais gente que o
normal me esperando em casa.
Além
dos amigos de meus irmãos – que de olhar pela janela tinham
passado a entrar e sentar no chão – meu pai havia convidado dois
de seus antigos colegas de trabalho, que vieram me ouvir acompanhados
por suas esposas e filhos. Meus irmãos tiveram que ceder o banco e
sentar-se no chão com seus amigos.
Enquanto
eu tomava minha xícara de chá e me preparava para contar o filme de
pé, contra a parede branca, meu pai não cansava de repetir aos seus
convidados que embora o filme fosse em preto e branco, e projetado em
meia tela, essa menininha, compadre, parece contar em tecnicolor e
cinemascope.
“Vocês
vão ver com seus próprios olhos.”
Contar
o filme com mais público me pareceu fascinante. Eu me sentia uma
verdadeira artista. Acho que naquela vez fiz uma de minhas melhores
apresentações. O filme era uma comédia musical, com atuação de
Marisol, a menina prodígio da Espanha. As visitas ficaram
encantadas. E não apenas com a minha forma de atuar, mas também com
a interpretação das canções.
No
final, os aplausos soaram como música em meus ouvidos.
A
partir daquele dia começou-se a falar abertamente sobre meu
particular talento de contadora de filmes, e a cada noite mais amigos
de meu pai se faziam de convidados para ir até em casa me ouvir.
Para
me ver e me ouvir.
Hernán Rivera Letelier, in A Contadora de Filmes
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