segunda-feira, 6 de maio de 2024

A Contadora de Filmes | [18]


No povoado, enquanto isso, as pessoas começavam a falar de mim. “É a menina que conta filmes”, eu ouvia de vez em quando na fila do pão ou no armazém. Ou quando passava pela rua do comércio na saída do colégio. Mas minha popularidade se confirmou definitivamente na tarde em que, ao voltar do cinema, vi que havia mais gente que o normal me esperando em casa.
Além dos amigos de meus irmãos – que de olhar pela janela tinham passado a entrar e sentar no chão – meu pai havia convidado dois de seus antigos colegas de trabalho, que vieram me ouvir acompanhados por suas esposas e filhos. Meus irmãos tiveram que ceder o banco e sentar-se no chão com seus amigos.
Enquanto eu tomava minha xícara de chá e me preparava para contar o filme de pé, contra a parede branca, meu pai não cansava de repetir aos seus convidados que embora o filme fosse em preto e branco, e projetado em meia tela, essa menininha, compadre, parece contar em tecnicolor e cinemascope.
Vocês vão ver com seus próprios olhos.”
Contar o filme com mais público me pareceu fascinante. Eu me sentia uma verdadeira artista. Acho que naquela vez fiz uma de minhas melhores apresentações. O filme era uma comédia musical, com atuação de Marisol, a menina prodígio da Espanha. As visitas ficaram encantadas. E não apenas com a minha forma de atuar, mas também com a interpretação das canções.
No final, os aplausos soaram como música em meus ouvidos.
A partir daquele dia começou-se a falar abertamente sobre meu particular talento de contadora de filmes, e a cada noite mais amigos de meu pai se faziam de convidados para ir até em casa me ouvir.
Para me ver e me ouvir.

Hernán Rivera Letelier, in A Contadora de Filmes

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