quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Os Nascimentos | 1528 – Tumbes

Dia de espantos

A expedição ao mar do sul descobre finalmente uma costa limpa de mangues e mosquitos.
Francisco Pizarro, que tem notícia de um povoado próximo, ordena a um soldado e a um escravo africano que empreendam a marcha.
O branco e o negro chegam a Tumbes através de terras semeadas e bem regadas por açudes, sementeiras que eles jamais viram na América; em Tumbes, gente que não anda despida nem dorme à intempérie rodeiam os recém-chegados e lhes dá presentes e alegrias. Não bastam os olhos de Alonso de Molina para medir as pranchas de ouro e prata que cobrem as paredes do templo.
As pessoas de Tumbes estão deslumbradas por tantas coisas do outro mundo. Puxam a barba de Alonso de Molina e tocam sua roupa e seu machado de ferro. Com gestos perguntam que pede esse monstro prisioneiro, de crista vermelha, que grita em uma jaula. Alonso aponta, e diz: “Galo”, e eles aprendem a primeira palavra na língua de Castilha.
Para o africano que acompanha o soldado, as coisas não vão tão bem. Agitando as mãos ele se defende dos índios, que querem raspar sua pele com espigas secas. Em um imenso recipiente, está fervendo a água. Vão metê-lo ali, para que se despinte.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

Nenhum comentário:

Postar um comentário