Dia
de espantos
A
expedição ao mar do sul descobre finalmente uma costa limpa de
mangues e mosquitos.
Francisco
Pizarro, que tem notícia de um povoado próximo, ordena a um soldado
e a um escravo africano que empreendam a marcha.
O
branco e o negro chegam a Tumbes através de terras semeadas e bem
regadas por açudes, sementeiras que eles jamais viram na América;
em Tumbes, gente que não anda despida nem dorme à intempérie
rodeiam os recém-chegados e lhes dá presentes e alegrias. Não
bastam os olhos de Alonso de Molina para medir as pranchas de ouro e
prata que cobrem as paredes do templo.
As
pessoas de Tumbes estão deslumbradas por tantas coisas do outro
mundo. Puxam a barba de Alonso de Molina e tocam sua roupa e seu
machado de ferro. Com gestos perguntam que pede esse monstro
prisioneiro, de crista vermelha, que grita em uma jaula. Alonso
aponta, e diz: “Galo”, e eles aprendem a primeira palavra na
língua de Castilha.
Para
o africano que acompanha o soldado, as coisas não vão tão bem.
Agitando as mãos ele se defende dos índios, que querem raspar sua
pele com espigas secas. Em um imenso recipiente, está fervendo a
água. Vão metê-lo ali, para que se despinte.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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