Entrevista
a Plínio Fraga, da Folha de S. Paulo. Uma das questões era
que António Houaiss, aqui há tempos, teria apostado em dois nomes
para o Prémio Nobel deste ano: João Cabral de Melo Neto e este
servidor. Pedia-se-me que comentasse a declaração de Houaiss e eu
lembrei a Plínio o que Graham Greene respondeu a um jornalista que
lhe perguntou o que pensava ele da atribuição do Prémio Nobel a
François Mauriac. Foi esta a frase histórica: “O Nobel
honrar-me-ia a mim, ao passo que Mauriac honra o Nobel.” Aí tem,
disse, eu sou o Graham Greene desta história, e João Cabral o
Mauriac. Mas, em seguida, esgotada a minha capacidade de abnegação
e modéstia, e também para não aparecer aos olhos dos leitores da
Folha como um sujeitinho hipócrita, acrescentei, desta
maneira me sangrando em saúde: “Em todo o caso, parecer-me-ia
justo que o primeiro Nobel de Literatura para a língua portuguesa
fosse dado a um português, porque, na verdade, vai para novecentos
anos que estamos à espera dele, enquanto vocês nem sequer dois
séculos de esperanças frustradas levam...”
José Saramago, in Cadernos de Lanzarote
Nenhum comentário:
Postar um comentário