O
homem acorda, a mulher está lendo jornal na sala. Quando ele fala, a
voz que sai é de um dublador famoso.
HOMEM
Bom dia.
MULHER
O que é isso?
HOMEM
Isso o quê?
MULHER
Sua voz.
HOMEM
Tá diferente, né?
MULHER
Não. É outra voz. De outra pessoa.
HOMEM
Não é, não.
MULHER
É sim. Amor, você tá sendo dublado.
HOMEM
Rá, rá, rá, vê se pode.
MULHER
Tá, sim. E mal dublado. A sua voz não tá colando direito com a sua
boca. Olha no espelho.
Eles
vão para o banheiro.
HOMEM
Claro que tá… Ih, não tá, não.
MULHER
Calma, às vezes minha voz tá esquisita também. Tenta bochechar,
que de repente passa.
Homem
pega em suas mãos um Listerine e lê o rótulo com voz em off.
HOMEM
Enxaguante bucal.
MULHER
Por que é que você falou isso?
HOMEM
Porque tem gente que não sabe ler.
MULHER
Que gente? De quem você tá falando?
Homem
bochecha. Sua voz sai diferente. Mas continua de dublagem.
HOMEM
Tá melhor?
MULHER
Não.
HOMEM
Cacilda.
MULHER
Cacilda? Será que você não consegue mais falar palavrão?
HOMEM
Claro que consigo.
MULHER
Fala Caralho.
HOMEM
Cacilda.
MULHER
Caralho.
HOMEM
Cacilda.
MULHER
Caralho.
HOMEM
Cará… coles. Não consigo. Pombas.
MULHER
Pombas?
HOMEM
Eu falei Pombas. Só que saiu Pombas. Pombas. Melda. Melda?
Mulher
começa a apalpá-lo.
HOMEM
O que é que você tá fazendo?
MULHER
Tô procurando a tecla SAP.
HOMEM
Não faz isso. Pelo amor de Deus. Eu vou chamar os tiras!
Mulher
acha a tecla SAP (fora de quadro). Homem fala com sua voz normal,
porém em inglês.
HOMEM
Oh, fuck.
Gregório Duvivier, in Put some farofa
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