quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Sua imortalidade


Meu pai me mostrou indícios precoces de que viveria para sempre.
Um dia ele caiu do telhado. O jardineiro estava limpando as folhas da calha e foi para casa sem terminar o serviço, deixando a escada encostada na casa. Meu pai chegou do trabalho, viu a escada e subiu. Queria ver como era a vista lá de cima. Disse que ficou curioso em saber se podia ou não enxergar o prédio onde trabalhava do alto de nossa casa.
Eu tinha nove anos de idade na época e sabia do perigo. Disse a ele para não fazer aquilo. Disse que era perigoso. Ele me olhou longamente e deu uma piscadela, uma piscadela que podia significar o que eu quisesse.
Então subiu na escada. Foi provavelmente a primeira escada que ele subiu em dez anos, mas isso eu só posso supor. Talvez ele subisse em escadas o tempo todo. Eu não saberia dizer.
Depois de subir, ele ficou em pé ao lado da chaminé, andando em círculos e olhando para o sul, o norte, o leste e o oeste, atrás de algum sinal de seu prédio. Ele estava bonito lá em cima, vestido com seu terno escuro e sapatos pretos bem engraxados. Parecia ter finalmente encontrado o lugar onde podia ser melhor exposto: no alto de uma casa de dois andares. Ele andou — passeou — para cima e para baixo no telhado, com uma das mãos acima dos olhos como um capitão de navio procurando terra firme. Mas não conseguiu vê-lo. Seu prédio permanecia invisível ao longe.
Então, de repente, ele caiu, e eu, eu o vi cair. Vi meu pai caindo do telhado de sua própria casa. Aconteceu tão depressa que não sei se ele tropeçou ou escorregou ou o quê — pelo que sei ele pode até ter pulado —, mas caiu de dois andares de altura em cima de uma moita. Até o último segundo fiquei esperando que ele criasse asas, e quando isso não aconteceu, quando não apareceu nenhuma asa, soube que a queda o tinha matado. Eu tinha tanta certeza de que estava morto que nem corri para perto dele para ver o que poderia ser feito para salvá-lo, para ressuscitá-lo, possivelmente.
Caminhei, devagar, até o corpo. Ele estava completamente imóvel, sem respirar. Em seu rosto havia aquela expressão de sono beatífico que associamos com a partida deste mundo. Uma expressão tranquila. Olhei fixamente para ele, memorizando o rosto de meu pai, seu rosto na morte — quando de repente o rosto se moveu, ele piscou para mim, riu e disse:
Enganei você, hein?

Daniel Wallace, in Peixe Grande

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