terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Futuros amantes | Chico Buarque, 1993


Chico Buarque pode ter dezenas de músicas em qualquer lista de melhores, mas, para quem escolheu estas 101, esta é a sua canção mais bonita.
Um dos maiores clássicos do Chico Buarque maduro, lançado no álbum Paratodos, de 1993, quando completou 49 anos, “Futuros amantes” é uma deslumbrante canção de nítidas formas e inspiração jobinianas, uma bossa nova lenta e melancólica, cantando o destino dos amores num futuro remoto, “milênios depois”:
E quem sabe, então / O Rio será / Alguma cidade submersa / Os escafandristas virão / Explorar sua casa / Seu quarto, suas coisas / Sua alma, desvãos.”
Com fino artesanato e delicadeza de sentimentos, Chico montou uma canção para a eternidade, como se fosse a carta de um náufrago numa garrafa jogada ao mar. Quando foi lançada, alguns aficionados da MPB imaginaram que havia uma sutil homenagem a “Cidade submersa”, o também lento samba que Paulinho da Viola havia escrito e gravado 20 anos antes. Mas na época do lançamento Chico contou que esta tinha sido a primeira imagem que lhe veio à cabeça quando começou a fazer a melodia no violão: “Eu tinha que ir atrás da explicação dessa cidade submersa. Aí eu coloquei os escafandristas, e surgiu a história de um amor adiado, um amor que fica para sempre”, explicou numa entrevista em um documentário dirigido por Roberto de Oliveira.
Homenagem inconsciente ou não, o restante da letra e a melodia de “Futuros amantes” realmente seguem caminhos bem diferentes dos trilhados por Paulinho em seu samba. Dois anos após o autor apresentá-la ao mundo em Paratodos, foi a vez de Gal Costa fazer outra impecável gravação, no álbum Mina d’água do meu canto, com repertório dividido entre composições de Chico e Caetano Veloso.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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