Chico
Buarque pode ter dezenas de músicas em qualquer lista de melhores,
mas, para quem escolheu estas 101, esta é a sua canção mais
bonita.
Um
dos maiores clássicos do Chico Buarque maduro, lançado no álbum
Paratodos, de 1993, quando completou 49 anos, “Futuros
amantes” é uma deslumbrante canção de nítidas formas e
inspiração jobinianas, uma bossa nova lenta e melancólica,
cantando o destino dos amores num futuro remoto, “milênios
depois”:
“E
quem sabe, então / O Rio será / Alguma cidade submersa / Os
escafandristas virão / Explorar sua casa / Seu quarto, suas coisas /
Sua alma, desvãos.”
Com
fino artesanato e delicadeza de sentimentos, Chico montou uma canção
para a eternidade, como se fosse a carta de um náufrago numa garrafa
jogada ao mar. Quando foi lançada, alguns aficionados da MPB
imaginaram que havia uma sutil homenagem a “Cidade submersa”, o
também lento samba que Paulinho da Viola havia escrito e gravado 20
anos antes. Mas na época do lançamento Chico contou que esta tinha
sido a primeira imagem que lhe veio à cabeça quando começou a
fazer a melodia no violão: “Eu tinha que ir atrás da explicação
dessa cidade submersa. Aí eu coloquei os escafandristas, e surgiu a
história de um amor adiado, um amor que fica para sempre”,
explicou numa entrevista em um documentário dirigido por Roberto de
Oliveira.
Homenagem
inconsciente ou não, o restante da letra e a melodia de “Futuros
amantes” realmente seguem caminhos bem diferentes dos trilhados por
Paulinho em seu samba. Dois anos após o autor apresentá-la ao mundo
em Paratodos, foi a vez de Gal Costa fazer outra impecável
gravação, no álbum Mina d’água do meu canto, com
repertório dividido entre composições de Chico e Caetano Veloso.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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