segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Back in the U.S.S.R


Back in the U.S.S.R.
Compositores: Paul McCartney e John Lennon
Artista: The Beatles
Gravação: Abbey Road Studios, Londres
Lançamento: The Beatles, 1968

Flew in from Miami Beach BOAC
Didn’t get to bed last night
On the way the paper bag was on my knee
Man I had a dreadful flight

I’m back in the U.S.S.R.
You don’t know how lucky you are, boy
Back in the U.S.S.R.

Been away so long I hardly knew the place
Gee it’s good to be back home
Leave it till tomorrow to unpack my case
Honey disconnect the phone

I’m back in the U.S.S.R.
You don’t know how lucky you are, boy
Back in the U.S.
Back in the U.S.
Back in the U.S.S.R.

Well the Ukraine girls really knock me out
They leave the West behind
And Moscow girls make me sing and shout
That Georgia’s always on my mind

Oh show me round your snow-peaked mountains way down south
Take me to your daddy’s farm
Let me hear your balalaikas ringing out
Come and keep your comrade warm

I’m back in the U.S.S.R.
You don’t know how lucky you are, boy
Back in the U.S.S.R.

Quando os Beach Boys lançaram Pet Sounds em 1966, percebemos de uma vez por todas que a concorrência deles era séria. Até então, eles pareciam uma ótima banda de surf rock. Já tinham produzido coisas primorosas, uns trabalhos inovadores com raízes na tradição do doo-wop, o rock’n’roll impregnado de gospel, e já tínhamos pegado emprestadas algumas dessas coisinhas. Por exemplo, as harmonias. Claro, eles também pegavam emprestado de nós. Todo mundo pegava emprestado de todo mundo. Existia uma circularidade em toda a indústria.
Uma coisa é certa: o “protagonista” russo desta canção tem a influência dos Beach Boys, e também de “Back in the U.S.A.”, de Chuck Berry. E essa influência dos Beach Boys no protagonista é perfeitamente normal. Afinal de contas, ele decola de Miami, onde andou ouvindo, em especial, “California Girls”, e é por isso que a ponte de nossa canção cita como as moças da Ucrânia o deixam nocauteado (“Ukraine girls really knock me out”). Ao fundo se ouve uma paródia bem flagrante de um refrão dos Beach Boys.
Depois temos a referência humorística a “Georgia on My Mind”, cantada por Ray Charles, mas claro, é a Geórgia da União Soviética, e não o estado homônimo dos EUA. Por algum motivo, o personagem prefere a URSS aos EUA, e a graça desta canção está justamente nisso. Quando começamos a citar os territórios da URSS, poderíamos continuar por horas a fio. É quase como se a canção estivesse escrevendo a si mesma a essa altura. O verso “Show me round your snow-peaked mountains way down south” tem um quê de travessura colegial, sugerindo que a moça mostre seus montes com picos nevados rumo ao sul, bem como “Come and keep your comrade warm”, um convite para esquentar seu camarada.
Em um ou dois pontos, a ideia de que um russo está dizendo que você não sabe a sorte que tem de morar na URSS fica meio enfraquecida. Estou pensando na referência sobre desconectar o telefone. A escuta telefônica provavelmente fazia parte da ideia que tínhamos da URSS. A alusão à fazenda de seu papai (“your daddy’s farm”) também é um tanto complexa, se você levar em conta que na URSS a coletivização da propriedade estava na ordem do dia. Portanto, o “papai” poderia ser Stálin ou Brejnev, que estava no poder na época.
Desnecessário dizer: os Beatles foram proibidos na URSS, o que, como de costume, teve o efeito de nos tornar muito populares por lá. Quando enfim cantei “Back in the U.S.S.R.” na Praça Vermelha, em 2003, foi um momento para degustar.

Paul McCartney, in As Letras – 1956 até o presente

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