Assim
que foi lançada, em 1983, na trilha sonora de O Grande Circo
Místico, “Beatriz” virou a favorita entre os muitos
admiradores de Edu Lobo e se consagrou como um clássico instantâneo,
com lugar de honra em qualquer lista das mais belas canções
brasileiras. A lírica descrição da vida e dos mistérios de uma
atriz está entre as preciosidades que Edu Lobo e Chico Buarque
escreveram por encomenda do Balé do Teatro Guaíra, de Curitiba.
Revelados
e consagrados durante os festivais competitivos que sacudiram o país
nos anos 1960, Edu Lobo (1943) e Chico Buarque nunca deixaram as
disputas minarem a amizade que se estreitou através dos anos e que
virou uma parceria perfeita a partir desse musical. Desde então, em
meio às suas carreiras individuais, eles já se juntaram mais três
vezes em colaborações para os palcos, nas peças musicais O
corsário do rei, Dança da meia-lua e Cambaio.
Naquele
início dos anos 1980, quando o novo rock brasileiro começava a
tomar as paradas, estourando em rádios e programas de TV, Edu e
Chico velejavam contra a corrente com o complexo universo lírico de
O Grande Circo Místico. A partir de um enredo inspirado num poema do
alagoano Jorge de Lima, eles criaram a trilha sonora com música
circense, blues, baladas, canções e valsas, como a delicada
“Beatriz”, prova de fogo para intérpretes pelas surpresas e
dificuldades de sua linha melódica e pelas intensas emoções da
linda letra.
“Sim,
me leva para sempre, Beatriz / Me ensina a não andar com os pés no
chão / Para sempre é sempre por um triz / Aí, diz quantos
desastres tem na minha mão / Diz se é perigoso a gente ser feliz.”
No
disco com a trilha original, lançado em 1983 pela Som Livre,
“Beatriz” veio na voz de Milton Nascimento, no auge de sua
técnica e sensibilidade. É uma versão definitiva, insuperável: só
a voz de Milton, o piano de Cristóvão Bastos e um deslumbrante
arranjo de cordas de Chiquinho de Moraes. Mas muitas outras gravações
memoráveis foram feitas por algumas das melhores vozes do Brasil,
como Zizi Possi, Mônica Salmaso, Ed Motta e Ana Carolina, todas à
altura da beleza arrebatadora da canção.
Nelson Motta, in 101 canções que abalaram o Brasil
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