Um
dia já distante, os magos voaram até a gruta da mãe do deus da
guerra. A bruxa que levava oito séculos sem lavar-se, não sorriu
nem cumprimentou. Aceitou, sem agradecer, as oferendas, mantas,
peles, plumas, e escutou com uma careta as notícias. México,
informaram os magos, é senhora e rainha, e todas as cidades estão
aos seus mandados. A velha grunhiu seu único comentário: Os
astecas derrubaram os outros, disse, e outros virão que derrubarão
os astecas.
Passou
o tempo.
Há
dez anos, se sucedem os signos.
Uma
fogueira esteve gotejando fogo, do centro do céu, durante toda uma
noite.
Um
súbito fogo de três caudas ergueu-se do horizonte e voou de
encontro ao sol.
Se
suicidou a casa do deus da guerra, se incendiou a si mesma: lhe
arrojavam cântaros de água e a água avivava as chamas.
Outro
templo foi queimado por um raio, uma tarde em que não havia
tormenta.
A
lagoa onde tem seu assento a cidade, se fez caldeira que fervia. As
águas se levantaram, candentes, altas de fúria, e levaram as casas
e arrancaram até os alicerces.
As
redes dos pescadores ergueram um pássaro cor de cinza misturado aos
peixes. Na cabeça do pássaro, havia um espelho redondo. O imperador
Montezuma viu avançar, no espelho, um exército que corria sobre
patas de veados e escutou os seus gritos de guerra. Depois, foram
castigados os magos que não souberam ler o espelho nem tiveram olhos
para ver os monstros de duas cabeças que acossavam, implacáveis, o
sono e a vigília de Montezuma. O imperador encerrou os magos em
jaulas e condenou-os a morrer de fome.
Cada
noite, os alaridos de uma mulher invisível sobressaltam a todos os
que dormem em Tenochtitlán e em Tlatelolco. Filhinhos meus,
grita, pois já temos de ir-nos longe! Não há parede que não
atravesse o pranto dessa mulher. Aonde iremos, filhinhos meus?
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
Nenhum comentário:
Postar um comentário