Falam
tanto dessa moça. Ninguém viu,
todos
juram.
Cada
qual conta coisa diferente,
e
todas concordantes.
Dizem
que à noite, ela. Ela o quê?
E
com quem? Com viajantes
que
somem sem rastro
gabando
no caminho
os
espasmos secretos (tão públicos) da moça.
Sobe
a moça
a
ladeira da igreja
para
a reza de todas as tardes.
De
branco perfeitíssimo,
alta,
superior, inabordável
(luxúria
de mil-folhas sob o véu,
murmura
alguém).
À
noite é que acontecem coisas
no
quarto escuro. Ganidos de prazer,
escutados
por quem? se ninguém passa
na
rua de altas horas-muro?
Pouco
importa, a moça está marcada,
marca
de rês na anca, ferro em brasa
de
língua popular.
Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo – Esquecer para lembrar
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