Lutam
os músculos para romper a pele. Jamais se apagam os olhos amarelos.
Bufam. Mordem o ar. Não há corrente que os aguente quando recebem a
ordem de ataque.
Esta
noite, por ordem do capitão Balboa, os cães cravarão seus dentes
na carne nua de cinquenta índios do Panamá. Destriparão e
devorarão cinquenta rebeldes do nefando pecado da sodomia, que para
ser mulheres só lhes faltam tetas e parir. O espetáculo terá lugar
nesta clareira do monte, entre as árvores que o vendaval de dias
atrás arrancou pela raiz. Os soldados disputam os melhores lugares à
luz das tochas.
Vasco
Núnez de Balboa preside a cerimônia. Seu cão, Leoncico, encabeça
os vingadores de Deus. Leoncico, filho de Becerrillo, tem o corpo
cruzado de cicatrizes. É mestre em capturas e esquartejamentos.
Recebe soldo de alferes e ganha sua parte de ouro e escravos em cada
presa de guerra, ouro e escravos.
Faltam
dois dias para que Balboa descubra o oceano Pacífico.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
Nenhum comentário:
Postar um comentário