segunda-feira, 12 de junho de 2023

Cartas na Rua | 13

As vozes das pessoas eram as mesmas, não importava onde você entregasse a correspondência, eram sempre as mesmas coisas.
Você está atrasado, não é verdade?
Onde está o carteiro regular?
Oi, Tio Sam!
Carteiro! Carteiro! Essa carta não é daqui!
As ruas estavam cheias de pessoas insanas e cretinas. A maioria delas morava em belas casas e não parecia trabalhar, e eu não deixava de me perguntar como elas faziam para sobreviver. Havia um cara que nunca deixava você colocar a correspondência em sua caixa. Ele ficava parado na calçada, aguardando você surgir, quando ainda faltavam duas ou três quadras de distância. Lá estava ele, a mão estendida.
Perguntei aos outros que já tinham feito aquela rota:
Qual é o problema daquele cara que fica lá parado com a mão estendida?
Que cara que fica parado com a mão estendida? — perguntavam.
Eles também tinham todos a mesma voz.
Certo dia, enquanto eu fazia essa rota, o homem-que-estende-a-mão estava a meia quadra rua acima. Conversava com um vizinho, olhou para trás em minha direção, a mais de meia quadra de distância, e confiou ser capaz de voltar e me alcançar. Quando deu as costas para mim, comecei a correr. Não consigo acreditar que tenha sido capaz de entregar as cartas tão depressa, movendo-me a largas passadas, sem folga ou pausa, eu ia liquidar com ele. Já estava com metade da carta enfiada em sua caixa quando ele se virou e me viu.
NÃO, NÃO, NÃO! — gritou. — NÃO A COLOQUE NA CAIXA!
Desceu a rua correndo em minha direção. Tudo o que pude ver foi um borrão no lugar de seus pés. Deve ter corrido cem metros em nove segundos e dois décimos.
Coloquei a carta em sua mão. Eu o observei abrir a carta, andar em direção à varanda, abrir a porta e entrar em casa. O que significava tudo aquilo algum dia alguém teria de me contar.

Charles Bukowski, in Cartas na Rua

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