O
Paraíso Terrestre
Ao
entardecer, nas margens do rio Ozama, Cristóvão Colombo escreve uma
carta. Seu corpo range, atormentado pelo reumatismo, mas seu coração
pula de alegria. O descobridor explica aos Reis Católicos o que
se mostra evidentíssimo: o Paraíso Terrestre está no mamilo de
uma teta de mulher.
Ele
descobriu isso há um par de meses, quando suas caravelas entraram no
golfo de Pária. Já vão os navios erguendo-se rumo ao céu
suavemente... Navegando águas acima, rumo aonde o ar não pesa,
Colombo chegou ao limite último do Oriente. Nestas terras, as mais
formosas do mundo, os homens mostram astúcia, engenho e valentia, e
as mulheres, belíssimas, usam por vestido seus longos cabelos e
colares de muitas pérolas enroscados no corpo. A água, doce e
clara, desperta a sede. Não castiga o inverno nem queima o verão; e
a brisa acaricia o que toca. As árvores brindam fresca sombra e, ao
alcance da mão, frutas de grande deleite, que chamam a fome.
Mas
além desta verdura e desta formosura, não há navio que possa
subir. Esta é a fronteira do Oriente. Ali se acabam as águas, as
terras e as ilhas. Muito acima, muito longe, a Árvore da Vida abre
sua vasta copa e brota a fonte dos quatro rios sagrados. Um deles é
o Orinoco, que não creio que se saiba no mundo de rio tão grande
e tão fundo.
O
mundo não é redondo. O mundo é uma teta de mulher. O bico nasce no
golfo de Pária e ascende até muito perto do céu. Na ponta, onde
fluem os sucos do Paraíso, nenhum homem chegará jamais.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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