O
que eu adoro em ti,
Não
é a tua beleza.
A
beleza, é em nós que ela existe.
A
beleza é um conceito.
E
a beleza é triste.
Não
é triste em si,
Mas
pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
O
que eu adoro em ti,
Não
é a tua inteligência.
Não
é o teu espírito sutil,
Tão
ágil, tão luminoso,
– Ave
solta no céu matinal da montanha.
Nem
é a tua ciência
Do
coração dos homens e das coisas.
O
que eu adoro em ti,
Não
é a tua graça musical,
Sucessiva
e renovada a cada momento,
Graça
aérea como o teu próprio pensamento.
Graça
que perturba e que satisfaz.
O
que eu adoro em ti,
Não
é a mãe que já perdi,
Não
é a irmã que já perdi,
E
meu pai.
O
que eu adoro em tua natureza,
Não
é o profundo instinto maternal
Em
teu flanco aberto como uma ferida.
Nem
a tua pureza. Nem a tua impureza.
O
que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O
que eu adoro em ti, é a vida.
Manuel Bandeira, in Poesia completa e prosa
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