Quase
duas décadas após trocar a Salvador natal pela então capital
federal, o Rio de Janeiro, Dorival Caymmi acumulara experiência de
sobra para ter saudades da Bahia. Terra que, a essa altura, ele
próprio ajudara a criar no imaginário de muitos brasileiros com seu
cancioneiro; incluindo pioneiras list songs como “O que é
que a baiana tem?”, “Lá vem a baiana”, “Vatapá” e “Lenda
do Abaeté”.
Mesmo
tendo a sua terra natal no título, este samba confessional tem como
tema o arrependimento e a perda. Sobrepondo-se a mais uma declaração
de amor à Bahia e à descrição de seus encantos e mistérios, a
saudade de Caymmi é do afeto e da vida em família, e ele se
arrepende de sua decisão de partir: “Ai, se eu escutasse o que
mamãe dizia.”
Naquele
fim dos anos 1950, Dorival também já podia se dar ao luxo de ser o
primeiro intérprete de suas canções, antecipando o perfil do
“cantautor” que se tornou o padrão da MPB nos anos 1960.
“Saudade da Bahia” foi lançado em seu quarto álbum, Eu vou
pra Maracangalha (Odeon), ao lado de clássicos como “Samba da
minha terra”, “Maracangalha” e a já citada “Vatapá”.
Apesar
do lançamento em 1957, o samba tinha sido escrito uma década antes,
de uma tacada só, num bar no Leblon, e ficara restrito ao repertório
caseiro. Caymmi sempre gostou de deixar as músicas amadurecerem sem
pressa, até finalmente se convencer de que estavam boas. O produtor
do álbum, Aloysio de Oliveira, que conhecia “Saudade da Bahia”
dos saraus na casa dos Caymmi, foi quem insistiu na sua gravação.
Consagrado
como cantor, ganhando o suficiente para sustentar a família e ainda
farrear pela fervilhante noite carioca, Caymmi também tinha seus
momentos de desamparo e saudade, e concluía filosoficamente a
canção:
“Pobre
de quem acredita / Na glória e no dinheiro para ser feliz.”
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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