quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Saudade da Bahia | Dorival Caymmi, 1957


Quase duas décadas após trocar a Salvador natal pela então capital federal, o Rio de Janeiro, Dorival Caymmi acumulara experiência de sobra para ter saudades da Bahia. Terra que, a essa altura, ele próprio ajudara a criar no imaginário de muitos brasileiros com seu cancioneiro; incluindo pioneiras list songs como “O que é que a baiana tem?”, “Lá vem a baiana”, “Vatapá” e “Lenda do Abaeté”.
Mesmo tendo a sua terra natal no título, este samba confessional tem como tema o arrependimento e a perda. Sobrepondo-se a mais uma declaração de amor à Bahia e à descrição de seus encantos e mistérios, a saudade de Caymmi é do afeto e da vida em família, e ele se arrepende de sua decisão de partir: “Ai, se eu escutasse o que mamãe dizia.”
Naquele fim dos anos 1950, Dorival também já podia se dar ao luxo de ser o primeiro intérprete de suas canções, antecipando o perfil do “cantautor” que se tornou o padrão da MPB nos anos 1960. “Saudade da Bahia” foi lançado em seu quarto álbum, Eu vou pra Maracangalha (Odeon), ao lado de clássicos como “Samba da minha terra”, “Maracangalha” e a já citada “Vatapá”.
Apesar do lançamento em 1957, o samba tinha sido escrito uma década antes, de uma tacada só, num bar no Leblon, e ficara restrito ao repertório caseiro. Caymmi sempre gostou de deixar as músicas amadurecerem sem pressa, até finalmente se convencer de que estavam boas. O produtor do álbum, Aloysio de Oliveira, que conhecia “Saudade da Bahia” dos saraus na casa dos Caymmi, foi quem insistiu na sua gravação.
Consagrado como cantor, ganhando o suficiente para sustentar a família e ainda farrear pela fervilhante noite carioca, Caymmi também tinha seus momentos de desamparo e saudade, e concluía filosoficamente a canção:
Pobre de quem acredita / Na glória e no dinheiro para ser feliz.”

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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