segunda-feira, 22 de agosto de 2022

O Lobo do Mar | Capítulo 9


Três dias de descanso, três abençoados dias de descanso foram o que tive com Wolf Larsen, comendo na mesa da cabine e não fazendo nada além de discutir a vida, a literatura e o universo, enquanto Thomas Mugridge soltava fumaça pelas orelhas e dava conta do meu trabalho além do seu próprio.
Cuidado que lá vem temporal, é só o que digo — alertou Louis durante a meia hora de folga que tivemos no convés enquanto Wolf Larsen aplacava uma briga entre os caçadores. — Não dá pra saber o que vem por aí — ele disse quando pedi que explicasse melhor. — O homem é inconstante como os ventos e as correntes marítimas. Impossível adivinhar o que ele vai fazer em seguida. Quando você começa a achar que o conhece, quando começa a vê-lo com bons olhos e põe as velas pra vento a favor, ele dá uma volta na sua frente, entra rasgando e arrebenta tudo.
Sendo assim, não fiquei muito surpreso quando fui pego pelo temporal previsto por Louis. Estávamos no meio de uma discussão acalorada (sobre a vida, é claro) e, exagerando na ousadia, comecei a ditar censuras severas a Wolf Larsen e à vida de Wolf Larsen. Na verdade, eu o estava submetendo a uma vivissecção e examinando do que sua alma era feita, da maneira que ele costumava fazer com os outros. Tenho um modo incisivo de falar e essa pode ser uma de minhas fraquezas, mas na ocasião me livrei de todas as amarras e fui cortando e perfurando até deixá-lo possesso. O bronzeado de seu rosto enegreceu de fúria e seus olhos se incendiaram. Já não havia neles resquício de clareza ou sanidade, somente a ira descontrolada de um louco. Seu lobo interior veio à tona, um lobo tomado pela loucura.
Wolf Larsen saltou em minha direção dando uma espécie de rugido e agarrou o meu braço. Eu tinha reunido forças para resistir à investida, embora estivesse tremendo por dentro, mas minha bravura não era páreo para a força aterradora daquele homem. Quando ele apertou a mão que me segurava pelo bíceps, me contorci todo e gritei alto. Minhas pernas amoleceram. Eu não tinha condições de ficar ereto, aguentando o suplício. Os músculos se recusavam a trabalhar. A dor era grande demais. Meu bíceps estava sendo destroçado.
De repente, tive a impressão de que ele estava voltando a si, pois um laivo de lucidez apareceu em seu olhar e ele aliviou um pouco a pressão, soltando uma risada curta que mais parecia um rosnado. Caí no chão e quase desmaiei enquanto ele sentava, acendia um charuto e me observava como um gato observando um rato. Enquanto me retorcia, pude ver em seus olhos aquela mesma curiosidade na qual já reparara tantas vezes, aquele espanto e perplexidade, aquela busca, aquela sua eterna investigação sobre a natureza de tudo que existe.
Finalmente, consegui me colocar em pé e subi a escada da escotilha. O clima favorável tinha ficado para trás e só me restava voltar à cozinha. Meu braço esquerdo estava amortecido, como se tivesse ficado paralisado, e só consegui usá-lo depois de dias, embora a dor e a rigidez tenham persistido por semanas. E a única coisa que ele fez foi segurar meu braço e apertar. Não precisou puxar ou torcer. Apenas fechou a mão e manteve a pressão. Só me dei conta de tudo que ele podia ter feito no dia seguinte, quando meteu a cabeça na cozinha e, sinalizando amizade renovada, perguntou como estava o meu braço.
Podia ter sido pior — ele sorriu depois que respondi.
Eu estava descascando batatas. Ele pegou uma dentro da panela. Era de tamanho considerável, firme, e ainda não tinha sido descascada. Ele a encaixou na mão e apertou, e a batata escorreu entre seus dedos como um mingau. Depois jogou o bagaço molenga de volta na panela e saiu, e naquele momento vislumbrei o que teria acontecido caso o monstro tivesse aplicado toda sua força em mim.
Mas os três dias de descanso foram bons, apesar de tudo, pois deram ao meu joelho a folga de que precisava. Ele já estava doendo bem menos, o inchaço tinha diminuído consideravelmente e a rótula parecia ter retornado a seu lugar. O descanso também trouxe os problemas que eu tinha previsto. Era clara a intenção de Thomas Mugridge de me fazer pagar por aqueles três dias. Passou a me tratar da forma mais vil, a me xingar sem interrupção e a jogar seu próprio trabalho no meu colo. Chegou a erguer o punho para cima de mim, mas eu também estava começando a adquirir traços animalescos e ameacei-o com um rosnado tão pavoroso que ele deve ter ficado assustado. Não é bonita a imagem que evoco para mim mesmo, esta de Humphrey van Weyden trabalhando agachado num cantinho fétido da cozinha do barco, encarando a criatura que está prestes a lhe bater, com os dentes arreganhados, rosnando como um cão e com os olhos brilhando de medo e impotência, mas também com a coragem trazida pelo medo e pela impotência. A imagem não me agrada. Faz lembrar demais um rato preso na ratoeira. Prefiro não pensar nisso. Mas ela surtiu efeito, pois o golpe ameaçado não foi desferido.
Thomas Mugridge recuou com um olhar tão cheio de ódio e agressividade quanto o meu. Éramos dois animais selvagens trancados juntos, mostrando os dentes. Ele se mostrou um covarde, incapaz de me bater porque eu não tinha me encolhido o bastante, portanto encontrou uma nova forma de me intimidar. Havia uma única faca de cozinha, que mal se podia chamar de faca. Com os anos de uso, sua lâmina tinha ficado fina e encurvada. Tinha um aspecto insolitamente cruel e no começo eu estremecia toda vez que precisava usá-la. O cozinheiro tomou emprestada de Johansen uma pedra de amolar e começou a afiar a faca. Dedicava-se a isso de maneira ostensiva, me dirigindo olhares insinuantes. Passava o dia todo aguçando o fio. Aproveitava qualquer brecha para sacar a faca e a pedra e se punha a afiar. O aço ficou afiado como uma navalha. Ele testava o fio na ponta do polegar, na unha. Raspava os pelos no dorso da mão, inspecionava o fio com atenção microscópica e sempre encontrava, ou fingia que encontrava, uma pequena irregularidade em algum ponto da lâmina. Então ele pegava a pedra e continuava afiando, afiando e afiando. Era tão patético que me dava vontade de rir alto.
Ao mesmo tempo, era bastante sério, pois fiquei sabendo que ele era capaz de usá-la e que por baixo da covardia habitava a coragem do covarde, semelhante à minha, o suficiente para levá-lo a cometer o ato temerário que sua natureza empenhava-se em negar. “O Mestre-Cuca está afiando a faca para Hump”, cochichavam os marujos, e alguns o censuravam. Ele reagia bem a esses comentários e ficava realmente satisfeito, balançando a cabeça com um ar fatídico de mistério, até que George Leach, o antigo camaroteiro, resolveu pilheriar sobre o assunto.
Ocorre que Leach tinha sido um dos marujos destacados para dar um caldo em Mugridge depois do jogo de cartas com o capitão. Estava claro que Leach executara sua tarefa com um empenho que Mugridge não havia perdoado, resultando numa troca de ofensas que envolveu, inclusive, a honra dos ancestrais. Mugridge ameaçou-o com a faca que estava afiando para usar comigo. Leach apenas riu e lançou mais alguns de seus vitupérios aprendidos no mercado de peixe, e, antes que ele ou eu pudéssemos nos dar conta, seu braço tinha sido rasgado do cotovelo até o pulso por um golpe ligeiro de faca. O cozinheiro recuou com uma expressão perversa no rosto e com a faca erguida em posição de defesa. Mas Leach reagiu com calma, embora o sangue estivesse espirrando no convés como um chafariz.
Vou te pegar, Mestre-Cuca — ele disse —, e vou te pegar de jeito. E não vou ter pressa nenhuma. Você vai estar sem a faca quando eu chegar.
Dizendo isso, ele deu a volta e saiu andando em silêncio. O rosto de Mugridge estava branco de medo por causa do que tinha feito e do que faria com ele, cedo ou tarde, o homem que ele havia esfaqueado. Mas sua atitude comigo continuou mais feroz que nunca. Mesmo apavorado com o preço que haveria de pagar por seu ato, ele sabia que o incidente representara uma lição prática para mim e adotou uma postura ainda mais dominadora e exultante. Brotava dele também uma luxúria muito próxima da loucura, despertada pela visão do sangue que fizera jorrar. Para onde quer que olhasse, ele enxergava tudo vermelho. Psicologicamente falando, é uma confusão das mais tristes, mas eu podia enxergar os processos de sua mente com a mesma clareza com que se lê um livro impresso.
Muitos dias se passaram, o Ghost navegava firme nos alísios, e eu podia jurar que via a loucura nascendo nos olhos de Thomas Mugridge. E confesso que tive medo, muito medo. Ele afiava a faca o dia inteiro. O olhar que ele exibia ao testar o fio e me encarar era nada menos que carnívoro. Passei a ter medo de lhe dar as costas e saía da cozinha andando para trás, o que divertia à beça os marujos e caçadores, que chegavam a se agrupar para me ver saindo. A pressão era insuportável. Às vezes eu tinha a impressão de que iria perder a cabeça, muito de acordo com o que se passava naquela nau de loucos e selvagens. Cada hora e cada minuto de minha existência estavam em risco. Eu era uma alma humana tomada pelo desespero, mas nenhuma outra alma da proa à popa demonstrou compaixão suficiente para me acudir. Houve momentos em que pensei em apelar à misericórdia de Wolf Larsen, mas a visão do demônio zombeteiro que morava em seu olhar, questionando e desprezando a vida, aparecia com força diante de mim e me convencia a mudar de ideia. Houve também momentos em que contemplei seriamente o suicídio e precisei reunir todo o poder de minha filosofia otimista para não saltar sobre a amurada e me entregar à escuridão da noite.
Wolf Larsen tentou diversas vezes entabular uma discussão comigo, mas eu lhe dava respostas curtas e o evitava. Por fim, ele ordenou que eu retomasse meu assento à mesa da cabine durante um tempo e deixasse o cozinheiro cuidando de minhas tarefas. Aproveitei a oportunidade para me expor com franqueza, descrevendo tudo que Thomas Mugridge me fazia sofrer desde os três dias de favoritismo com os quais eu havia sido contemplado. Wolf Larsen me encarou com olhos sorridentes.
Quer dizer que está com medo, é? — disse em tom de desprezo.
Sim — respondi com firmeza e honestidade —, estou com medo.
É típico de gente como você — ele lamentou, um pouco contrariado — ficar sentimentalizando a alma imortal, com medo de morrer. Basta se deparar com uma faca bem afiada e um cockney covarde para que o apego da vida à vida atropele as tolices que você tanto estima. Ora, prezado amigo, você viverá para sempre. Você é um deus, e Deus não pode ser morto. O Mestre-Cuca não pode lhe fazer mal. Você crê firmemente em sua ressurreição. O que há para temer? A vida eterna o aguarda. Você é um milionário da imortalidade e sua fortuna não pode ser tocada, ela é menos deteriorável que as estrelas e tão duradoura quanto o tempo e o espaço. É impossível reduzir seu capital. A imortalidade não tem começo ou fim. Eternidade é eternidade, e mesmo que você morra aqui e agora vai seguir vivendo em outro lugar daqui em diante. E é realmente muito belo isso de livrar-se da carne e deixar o espírito aprisionado alçar voo. O Mestre-Cuca não pode atingi-lo. Pode apenas lhe dar um empurrão no caminho que deverá percorrer por toda a eternidade. Mas, caso ainda não esteja interessado em receber esse empurrão, por que não dar um empurrão no Mestre-Cuca? De acordo com as suas ideias, ele também deve ser um milionário imortal. Você não tem o poder de arruiná-lo. A moeda dele sempre circulará com o valor nominal. Você não pode diminuir a duração da vida dele matando-o, pois ele não tem começo nem fim. Ele continuará vivendo de algum modo, em algum lugar. Dê um empurrãozinho nele, então. Enfie uma faca em seu corpo e liberte seu espírito. Na atual situação, ele está encarcerado numa prisão infecta, e ao arrombar a porta você cometerá um ato de bondade. E vai saber? Talvez um espírito muito belo escape daquela carcaça imunda para subir aos céus. Dê um empurrãozinho e eu o promoverei ao cargo dele. Ele está ganhando quarenta e cinco dólares ao mês.
Era evidente que eu não podia contar nem com a ajuda nem com a misericórdia de Wolf Larsen. Independentemente do que pudesse ser feito, eu precisava fazer sozinho, e, imbuído da coragem do medo, desenvolvi um plano para enfrentar Thomas Mugridge com suas próprias armas. Peguei uma pedra de amolar emprestada de Johansen. Louis, o piloto de bote, já tinha me implorado um pouco de leite condensado e açúcar. A despensa em que essas iguarias eram armazenadas ficava debaixo do piso da cabine. Na primeira oportunidade, roubei cinco latas do leite e, na mesma noite, chegada a hora da vigia de Louis no convés, troquei-as por um punhal gasto de aspecto tão cruel quanto a faca de legumes de Thomas Mugridge. A lâmina estava cega e enferrujada, mas girei a pedra de amolar e Louis a afiou. Dormi um pouco mais tranquilo aquela noite.
Na manhã seguinte, depois do café, Thomas Mugridge começou sua afiação interminável. Olhei para ele com prudência, pois estava de joelhos, removendo as cinzas do forno. Depois de jogá-las ao mar, voltei e o encontrei conversando com Harrison, que estava com seu semblante honesto de camponês tomado de espanto e fascínio.
Sim — Mugridge ia dizendo —, e no fim Vossa Excelência me deu dois anos de prisão em Reading. Mas eu não tava nem aí. Virei o outro cara do avesso. Tinha que ter visto como ele ficou. Uma faca igualzinha a essa. Enfiei nele como se fosse manteiga mole e o grito que ele deu valia muito mais que dois anos no xadrez. — Ele deu uma olhada na minha direção, para ver se eu estava prestando atenção, e prosseguiu. — “Foi sem querer, Tommy”, ele choramingava, “Deus é testemunha de que foi sem querer!” “Vou te furar todo”, eu dizia correndo atrás dele. Cortei ele em tirinhas, foi o que fiz, enquanto ele urrava sem parar, como um porco. Uma hora ele pegou a faca com a mão e tentou segurar. Botou os dedos em volta. Mas aí eu puxei a lâmina com força e decepei até o osso. Foi uma coisa linda de ver, só digo isso.
Um chamado do imediato interrompeu a narrativa sanguinolenta e Harrison se dirigiu à popa. Mugridge sentou no degrau da porta da cozinha e continuou afiando a faca. Guardei a pá e me sentei em cima da carvoeira com toda a calma, de frente para ele. Ele me lançou um olhar de ameaça. Ainda mantendo a calma, mas com o coração batendo desenfreado, peguei o punhal de Louis e comecei a afiá-lo na pedra. Tinha antecipado toda espécie de reação explosiva da parte do cockney, mas para minha surpresa ele não parecia ciente do que eu estava fazendo. Continuou afiando sua faca. Fiz o mesmo. Ficamos ali sentados por duas horas, frente a frente, só afiando, até que a notícia se espalhou e metade da tripulação se amontoou nas entradas da cozinha para assistir à cena.
Conselhos e incentivos foram distribuídos livremente, e Jock Horner, o caçador quieto e acanhado que parecia incapaz de ferir um camundongo, me sugeriu evitar as costelas e tentar perfurar o abdome de baixo para cima, ao mesmo tempo que aplicava à lâmina o que chamou de “torcedura espanhola”. Leach, exibindo o braço enfaixado, me implorava para deixar um pedacinho do cozinheiro para ele. E Wolf Larsen se deteve um par de vezes na entrada do tombadilho para espiar com curiosidade aquilo que, para ele, certamente não passava de mais um frêmito do fermento que ele chama de vida.
Digo sem hesitar que, naquela ocasião, a vida para mim se revestiu dos mesmos valores sórdidos. Não havia nela nada de belo ou divino. Eram apenas duas coisas covardes que se moviam e estavam sentadas afiando aço em pedra, e um grupo de outras coisas que se moviam, algumas covardes, outras não, observando as duas primeiras. Metade daqueles homens, tenho certeza, estava ansiosa para ver o sangue correr. Teria sido divertido. E creio que ninguém interviria caso nos atracássemos numa luta de vida ou morte.
Por outro lado, a situação toda era risível e infantil. Afiar, afiar, afiar. Humphrey van Weyden afiando a faca na cozinha de um navio e testando o fio na ponta do polegar! De todas as situações possíveis, essa era a mais inconcebível de todas. Sei que meus conhecidos próximos jamais teriam acreditado nisso. Eu não tinha sido chamado de Humphrey “Florzinha” a vida toda por acaso, e Humphrey van Weyden não sabia se devia sentir vergonha ou orgulho perante a revelação de que o Humphrey “Florzinha” era capaz de uma coisa dessas.
Mas não aconteceu nada. Ao fim de duas horas, Thomas Mugridge pôs de lado a faca e a pedra de amolar e estendeu a mão.
De que adianta a gente ficar bancando o palhaço na frente deles? — perguntou. — Não vão com a nossa fuça e iam adorar que a gente cortasse a garganta um do outro. Você não é de se jogar fora, Hump! Tem colhões, como vocês ianques costumam dizer, e até que gosto de você. Então aperta aqui.
Por mais covarde que eu fosse, era menos covarde que ele. Minha vitória era incontestável, e me recusei a desperdiçar parte dela sacudindo aquela mão asquerosa.
Está bem — ele disse com o rabo entre as pernas —, faça como quiser. Não vou deixar de gostar de você por isso. — E para salvar um pouco da honra voltou-se para a plateia com ímpeto. — Sumam da minha cozinha, seus cretinos!
A ordem ganhou o reforço de uma chaleira de água fervente e os marujos deram no pé assim que botaram o olho nela. Isso representou uma espécie de vitória para Thomas Mugridge e permitiu que ele aceitasse melhor a derrota que eu havia lhe imposto, embora ele não fosse atrevido a ponto de enxotar também os caçadores.
Para mim o Mestre-Cuca já era — ouvi Smoke dizer a Horner.
Sem dúvida — o outro respondeu. — Hump vai mandar na cozinha de agora em diante e o Mestre-Cuca vai ficar bem quietinho.
Mugridge ouviu o comentário e deu uma olhada rápida em minha direção, mas fingi não ter ouvido a conversa. Eu não imaginava que minha vitória fosse tão completa e abrangente, mas decidi não abrir mão de nada que havia conquistado. À medida que os dias foram passando, a profecia de Smoke se confirmou. Nem diante de Wolf Larsen o cockney adotava uma postura tão humilde e servil. Parei de tratá-lo como senhor e nunca mais lavei panelas gordurosas ou descasquei batatas. Fazia apenas o meu trabalho, e da maneira que bem entendia. Também passei a levar o punhal na cintura como um marujo e a dedicar a Thomas Mugridge uma atitude permanente que combinava doses iguais de dominação, insulto e desprezo.

Jack London, in O Lobo do Mar

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