No
início dos anos 1940, o talento de Ary Barroso como compositor já
era mais do que reconhecido, colecionando sucessos que continuam em
voga até hoje, como provam as outras duas canções aqui incluídas,
“Na Baixa do Sapateiro” e “Aquarela do Brasil”. Mas o mineiro
de Ubá ainda tinha inspiração de sobra, caso do samba-canção de
melodia arrebatadora que é “Pra machucar meu coração”, vestido
por uma luxuosa harmonia.
Na
época, além das muitas funções na música (pianista, compositor,
líder de orquestra, eventual cantor), o bacharel em Direito Ary
Barroso já exercia outras atividades. Foi apresentador de programa
de calouros e locutor esportivo (torcendo parcial e despudoradamente
por seu Flamengo durante as transmissões), e teve participação
ativa na política. Destacou-se na luta pelos direitos autorais na
música (foi um dos fundadores e, em 1942, o primeiro presidente da
União Brasileira de Compositores, UBC) e, em 1946, foi o segundo
mais votado para a Câmara de Vereadores do Rio.
Agenda
lotada de outros interesses, mas com tempo e inspiração para novas
canções, o passional Ary é o coração romântico que se recupera
de uma “cruel desilusão”. Do lar que mantinha com a amada
restaram apenas o (hoje, ecologicamente incorreto) sabiá e o violão.
Apesar da separação traumática, a melodia melancólica revela que
o narrador começava a se recuperar (“Quem sabe, não foi bem
melhor assim…”) e, em seus últimos versos, transmite sua lição
de vida: “A vida é uma escola / Onde a gente precisa aprender / A
ciência de viver pra não sofrer.”
Lançado
em 1943 pelo cantor Déo, hoje esquecido, este samba praticamente
renasceu 21 anos depois, em Getz/Gilberto, gravado e lançado
em 1964 nos Estados Unidos pelo saxofonista Stan Getz e por João
Gilberto, com participação de Tom Jobim ao piano, e que popularizou
a bossa nova no mundo.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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