Ronnie ia encontrar os dois homens no bar
alemão, no distrito de Silverlake. Eram sete e quinze da noite.
Ficou lá sentado, bebendo cerveja preta, sozinho em sua mesa. A
garçonete era loira, um belo traseiro, e seus peitos pareciam
prestes a saltar para fora da blusa.
Ronnie gostava de loiras. Era como
esquiar no gelo e esquiar em patins. As loiras eram como esquiar no
gelo, o resto era como esquiar de patins. As loiras chegavam mesmo a
ter um cheiro diferente. Mas mulheres significavam problema e para
ele os problemas frequentemente superavam os prazeres. Em outras
palavras, o preço a ser pago era muito alto.
Ainda assim um homem precisava de uma
mulher de vez em quando, no pior dos casos, apenas para provar que
conseguia arranjar uma. O sexo era secundário. Não era um mundo
para os apaixonados, nunca seria.
Sete e vinte. Ele acenou para que lhe
trouxessem outra cerveja. Ela veio sorrindo, carregando a cerveja na
frente de seus peitos. Assim era difícil não gostar dela.
– Você gosta de trabalhar aqui? –
ele perguntou.
– Oh, sim, conheço muitos homens.
– Homens legais?
– Os legais e também os do outro tipo.
– Como consegue distingui-los?
– Só de olhar já consigo dizer a
diferença.
– E de que tipo eu sou?
– Ah – ela riu –, dos legais, é
claro.
– Agora você fez por merecer sua
gorjeta – disse Ronnie.
Sete e vinte e cinco. O combinado era às
sete. Então ele levantou os olhos. Era Curt. Curt tinha um sujeito
com ele. Eles vieram até a mesa em que Ronnie estava e se sentaram.
Curt acenou pedindo um jarro.
– Os Rams não valem merda nenhuma –
disse Curt. – Já perdi umas quinhentas pratas neles só nessa
temporada.
– Acha que é o fim de Prothro?
– Sim, está tudo acabado para ele –
disse Curt. – Oh, esse é Bill. Bill, esse é Ronnie.
Apertaram as mãos. A garçonete chegou
com o jarro de cerveja.
– Senhores – disse Ronnie –, essa é
Kathy.
– Opa – disse Bill.
– Opa – disse Curt.
A garçonete riu e se afastou rebolando.
– A cerveja é boa – disse Ronnie. –
Estou aqui desde as sete horas esperando. Já deveria saber.
– Não vá beber demais – disse Curt.
– Ele é confiável? – perguntou
Bill.
– Tem as melhores referências –
disse Curt.
– Olhe – disse Bill –, não quero
nada de gracinhas. É a minha grana.
– Como vou saber que você não é um
tira? – perguntou Ronnie.
– Como vou saber que você não vai
fugir com os 2.500 dólares?
– Três mil.
– Curt falou em dois e meio.
– Acabei de subir o preço. Não gosto
do seu jeito.
– Também não fui muito com a sua
cara. Tenho uma boa oportunidade de cancelar tudo.
– Não vai cancelar. Vocês nunca
cancelam.
– Você faz isso regularmente?
– Sim. E você?
– Tudo bem, senhores – disse Curt –,
não me importo com a quantia que vocês vão acertar. Quero o meu
dinheiro pelo contato.
– Você é o sortudo, Curt – disse
Bill.
– É... – disse Ronnie.
– Cada homem se especializa em alguma
coisa – disse Curt, acendendo um cigarro.
– Curt, como sei que esse sujeito não
vai fugir com os três mil?
– Ele não vai, se fugir, está fora
dos negócios. E esse é o único tipo de trabalho que ele sabe
fazer.
– Isso é horrível – disse Bill.
– O que tem de horrível nisso? Você
precisa dele, não precisa?
– Bem, sim.
– Outras pessoas precisam dele também.
Dizem que cada homem é bom em alguma coisa. Ele é bom nisso.
Alguém colocou algum trocado no jukebox
e eles ficaram lá sentados, ouvindo música e bebendo cerveja.
– Realmente gostaria de foder aquela
loira – disse Ronnie. – Queria meter meu pau nela por umas cinco
ou seis horas.
– Eu também meteria ferro nela –
disse Curt –, se possível.
– Vamos pedir outro jarro – disse
Bill. – Estou nervoso.
– Não há nada com o que se preocupar
– disse Curt.
Ele acenou para a garçonete pedindo
outro jarro de cerveja.
– Aqueles quinhentos que apostei nos
Rams, vou recuperá-los em Santa Anita. Eles abrem no dia 26 de
dezembro. Estarei lá.
– O Shoe correrá na inauguração? –
perguntou Bill.
– Não tenho lido os jornais. Imagino
que sim. Ele não pode abandonar. Está em seu sangue.
– Longden abandonou – disse Ronnie.
– Bem, ele tinha que largar tudo,
tinham que amarrá-lo na sela.
– Ele ganhou sua última corrida.
– Só porque Campus puxou o outro
cavalo.
– Não acho que você possa acertar nos
cavalos – disse Bill.
– Um homem inteligente pode fazer
qualquer coisa, desde que se dedique – disse Curt. – Nunca
trabalhei um único dia na vida.
– Pois é – disse Ronnie –, mas eu
tenho trabalho pra essa noite.
– E certifique-se de que será bem
feito, meu chapa – disse Curt.
– Sempre faço um bom trabalho.
Estavam quietos e ficaram sentados
bebendo cerveja. Então Ronnie disse:
– Tudo bem, onde está a porra do
dinheiro?
– Você vai receber, vai receber –
disse Bill. – Por sorte eu trouxe quinhentos dólares a mais.
– Quero o dinheiro agora. Todo o
dinheiro.
– Dê-lhe o dinheiro, Bill, e aproveite
para já dar a minha parte também.
O dinheiro estava todo em notas de cem.
Bill contou o dinheiro embaixo da mesa. Ronnie recebeu sua parte
primeiro. Depois Curt recebeu a que lhe cabia. Eles conferiram. Tudo
certo.
– Onde é o trabalho? – perguntou
Ronnie.
– Tome aqui – disse Bill,
entregando-lhe um envelope. – O endereço e a chave estão aí
dentro.
– É muito longe?
– Trinta minutos. Pegue a autoestrada
Ventura.
– Posso lhe perguntar uma coisa?
– Claro.
– Por quê?
– Por quê?
– Sim, por quê?
– Isso importa?
– Não.
– Então por que perguntar?
– Acho que me passei na cerveja.
– Talvez seja melhor você ir – disse
Curt.
– Só mais um jarro de cerveja –
disse Ronnie.
– Não – disse Curt –, vá logo.
– Bem, merda, tudo bem.
Ronnie deu a volta na mesa, levantou,
caminhou para a saída. Curt e Bill ficaram ali sentados olhando para
ele. Ele saiu. Noite. Estrelas. Lua. Trânsito. Seu carro. Ele
destrancou a porta, entrou e partiu.
Ronnie verificou a rua cuidadosamente e o
endereço com mais cuidado ainda. Estacionou a um quarteirão e meio
de distância, passando o endereço, e voltou caminhando. A chave
entrou na fechadura. Ele abriu e entrou. Havia uma televisão ligada
na sala da frente. Ele caminhou pelo tapete.
– Bill? – alguém perguntou.
Ele ouviu a voz. Ela estava no banheiro.
– Bill? – ela disse novamente.
Ele empurrou a porta e lá estava ela
sentada na banheira, muito loira, muito branca, jovem. Ela gritou.
Ele pôs as mãos em sua garganta e a
empurrou para baixo até mergulhá-la na água. As mangas de sua
camisa estavam encharcadas. Ela chutava e lutava violentamente. A
coisa ficou tão feia que ele teve que entrar na banheira com ela de
roupa e tudo. Teve que segurá-la. Finalmente ela ficou parada e ele
a soltou.
As roupas de Bill não serviam muito bem
nele, mas pelo menos estavam secas. A carteira estava molhada, mas
ele a guardou assim mesmo. Então saiu de lá, caminhou um quarteirão
e meio até seu carro e partiu.
Charles Bukowski, in Ao Sul de Lugar Nenhum
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