segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Matador

Ronnie ia encontrar os dois homens no bar alemão, no distrito de Silverlake. Eram sete e quinze da noite. Ficou lá sentado, bebendo cerveja preta, sozinho em sua mesa. A garçonete era loira, um belo traseiro, e seus peitos pareciam prestes a saltar para fora da blusa.
Ronnie gostava de loiras. Era como esquiar no gelo e esquiar em patins. As loiras eram como esquiar no gelo, o resto era como esquiar de patins. As loiras chegavam mesmo a ter um cheiro diferente. Mas mulheres significavam problema e para ele os problemas frequentemente superavam os prazeres. Em outras palavras, o preço a ser pago era muito alto.
Ainda assim um homem precisava de uma mulher de vez em quando, no pior dos casos, apenas para provar que conseguia arranjar uma. O sexo era secundário. Não era um mundo para os apaixonados, nunca seria.
Sete e vinte. Ele acenou para que lhe trouxessem outra cerveja. Ela veio sorrindo, carregando a cerveja na frente de seus peitos. Assim era difícil não gostar dela.
Você gosta de trabalhar aqui? – ele perguntou.
Oh, sim, conheço muitos homens.
Homens legais?
Os legais e também os do outro tipo.
Como consegue distingui-los?
Só de olhar já consigo dizer a diferença.
E de que tipo eu sou?
Ah – ela riu –, dos legais, é claro.
Agora você fez por merecer sua gorjeta – disse Ronnie.
Sete e vinte e cinco. O combinado era às sete. Então ele levantou os olhos. Era Curt. Curt tinha um sujeito com ele. Eles vieram até a mesa em que Ronnie estava e se sentaram. Curt acenou pedindo um jarro.
Os Rams não valem merda nenhuma – disse Curt. – Já perdi umas quinhentas pratas neles só nessa temporada.
Acha que é o fim de Prothro?
Sim, está tudo acabado para ele – disse Curt. – Oh, esse é Bill. Bill, esse é Ronnie.
Apertaram as mãos. A garçonete chegou com o jarro de cerveja.
Senhores – disse Ronnie –, essa é Kathy.
Opa – disse Bill.
Opa – disse Curt.
A garçonete riu e se afastou rebolando.
A cerveja é boa – disse Ronnie. – Estou aqui desde as sete horas esperando. Já deveria saber.
Não vá beber demais – disse Curt.
Ele é confiável? – perguntou Bill.
Tem as melhores referências – disse Curt.
Olhe – disse Bill –, não quero nada de gracinhas. É a minha grana.
Como vou saber que você não é um tira? – perguntou Ronnie.
Como vou saber que você não vai fugir com os 2.500 dólares?
Três mil.
Curt falou em dois e meio.
Acabei de subir o preço. Não gosto do seu jeito.
Também não fui muito com a sua cara. Tenho uma boa oportunidade de cancelar tudo.
Não vai cancelar. Vocês nunca cancelam.
Você faz isso regularmente?
Sim. E você?
Tudo bem, senhores – disse Curt –, não me importo com a quantia que vocês vão acertar. Quero o meu dinheiro pelo contato.
Você é o sortudo, Curt – disse Bill.
É... – disse Ronnie.
Cada homem se especializa em alguma coisa – disse Curt, acendendo um cigarro.
Curt, como sei que esse sujeito não vai fugir com os três mil?
Ele não vai, se fugir, está fora dos negócios. E esse é o único tipo de trabalho que ele sabe fazer.
Isso é horrível – disse Bill.
O que tem de horrível nisso? Você precisa dele, não precisa?
Bem, sim.
Outras pessoas precisam dele também. Dizem que cada homem é bom em alguma coisa. Ele é bom nisso.
Alguém colocou algum trocado no jukebox e eles ficaram lá sentados, ouvindo música e bebendo cerveja.
Realmente gostaria de foder aquela loira – disse Ronnie. – Queria meter meu pau nela por umas cinco ou seis horas.
Eu também meteria ferro nela – disse Curt –, se possível.
Vamos pedir outro jarro – disse Bill. – Estou nervoso.
Não há nada com o que se preocupar – disse Curt.
Ele acenou para a garçonete pedindo outro jarro de cerveja.
Aqueles quinhentos que apostei nos Rams, vou recuperá-los em Santa Anita. Eles abrem no dia 26 de dezembro. Estarei lá.
O Shoe correrá na inauguração? – perguntou Bill.
Não tenho lido os jornais. Imagino que sim. Ele não pode abandonar. Está em seu sangue.
Longden abandonou – disse Ronnie.
Bem, ele tinha que largar tudo, tinham que amarrá-lo na sela.
Ele ganhou sua última corrida.
Só porque Campus puxou o outro cavalo.
Não acho que você possa acertar nos cavalos – disse Bill.
Um homem inteligente pode fazer qualquer coisa, desde que se dedique – disse Curt. – Nunca trabalhei um único dia na vida.
Pois é – disse Ronnie –, mas eu tenho trabalho pra essa noite.
E certifique-se de que será bem feito, meu chapa – disse Curt.
Sempre faço um bom trabalho.
Estavam quietos e ficaram sentados bebendo cerveja. Então Ronnie disse:
Tudo bem, onde está a porra do dinheiro?
Você vai receber, vai receber – disse Bill. – Por sorte eu trouxe quinhentos dólares a mais.
Quero o dinheiro agora. Todo o dinheiro.
Dê-lhe o dinheiro, Bill, e aproveite para já dar a minha parte também.
O dinheiro estava todo em notas de cem. Bill contou o dinheiro embaixo da mesa. Ronnie recebeu sua parte primeiro. Depois Curt recebeu a que lhe cabia. Eles conferiram. Tudo certo.
Onde é o trabalho? – perguntou Ronnie.
Tome aqui – disse Bill, entregando-lhe um envelope. – O endereço e a chave estão aí dentro.
É muito longe?
Trinta minutos. Pegue a autoestrada Ventura.
Posso lhe perguntar uma coisa?
Claro.
Por quê?
Por quê?
Sim, por quê?
Isso importa?
Não.
Então por que perguntar?
Acho que me passei na cerveja.
Talvez seja melhor você ir – disse Curt.
Só mais um jarro de cerveja – disse Ronnie.
Não – disse Curt –, vá logo.
Bem, merda, tudo bem.
Ronnie deu a volta na mesa, levantou, caminhou para a saída. Curt e Bill ficaram ali sentados olhando para ele. Ele saiu. Noite. Estrelas. Lua. Trânsito. Seu carro. Ele destrancou a porta, entrou e partiu.
Ronnie verificou a rua cuidadosamente e o endereço com mais cuidado ainda. Estacionou a um quarteirão e meio de distância, passando o endereço, e voltou caminhando. A chave entrou na fechadura. Ele abriu e entrou. Havia uma televisão ligada na sala da frente. Ele caminhou pelo tapete.
Bill? – alguém perguntou.
Ele ouviu a voz. Ela estava no banheiro.
Bill? – ela disse novamente.
Ele empurrou a porta e lá estava ela sentada na banheira, muito loira, muito branca, jovem. Ela gritou.
Ele pôs as mãos em sua garganta e a empurrou para baixo até mergulhá-la na água. As mangas de sua camisa estavam encharcadas. Ela chutava e lutava violentamente. A coisa ficou tão feia que ele teve que entrar na banheira com ela de roupa e tudo. Teve que segurá-la. Finalmente ela ficou parada e ele a soltou.
As roupas de Bill não serviam muito bem nele, mas pelo menos estavam secas. A carteira estava molhada, mas ele a guardou assim mesmo. Então saiu de lá, caminhou um quarteirão e meio até seu carro e partiu.

Charles Bukowski, in Ao Sul de Lugar Nenhum

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