Devido a uma ligação de emergência da
madame Asari, a secretária de Estado, os estudantes Penn e Bara
tiveram de deixar o aposento imediatamente. Eles receberam a notícia
de que a secretária do presidente Miruki estaria visitando o setor
Alishia dentro de cinco minutos. Desse modo, os dois logo se
dirigiram para o expresso transportador e retornaram ao setor, bem a
tempo.
— Não vejo o professor Kohak. Eu me
pergunto o que aconteceu a ele.
— Hum, não tenho certeza. Já deu a
hora marcada e ele não está aqui. Que estranho.
Eles não demoraram a notar a ausência
do professor. Temendo a ira do presidente Miruki, perguntaram a
várias pessoas sobre Kohak e averiguaram cada sala, mas não havia
sinal dele em lugar algum.
— Você procurou dentro do armário do
laboratório e debaixo das mesas também? — Penn perguntou.
— Claro que sim. Eu fiz o possível,
mas não consegui encontrá-lo. E parece que ninguém sabe sobre ele.
— Ninguém? A quem você perguntou?
— Quem? — Bara riu. — Todo mundo.
Por alguma razão, a carranca de Bara se
transformou em um sorriso esquisito.
Pouco depois, eles ouviram um tumulto do
lado de fora que interpretaram como indicativo da chegada da
secretária.
Ambos se apressaram até a porta.
— Oh, é…
— Minha nossa, o presidente está…
Eles esperavam a chegada da secretária;
no entanto, para sua grande surpresa, ela escoltava o próprio
presidente, parado arrogantemente.
Madame Asari invadiu a sala e,
desdenhosa, olhou para Penn e Bara. Depois, virou-se (embora não na
direção de alguém em particular) e começou a falar.
— O professor Kohak, do setor Alishia,
foi executado hoje, como punição na participação de um escândalo
envolvendo a senhora Miruki. Portanto eu, secretária Asari, vou
tomar conta deste setor por um tempo, em paralelo ao meu cargo atual.
Ademais, Bara deve se tornar vice-chefe provisória. Isso é tudo.
Penn e Bara começaram a tremer como se
levassem um choque; essa era a primeira vez que ouviam falar sobre a
violenta morte do professor.
Era difícil de acreditar que qualquer
escândalo poderia ocorrer entre o professor Kohak e a senhora
Miruki. Ele ficava calado em seu laboratório e dedicava quase 24
horas do seu dia ao trabalho. Ele não teria tempo ou motivação
para se envolver com tal coisa. Mas se ele estivesse, no que
exatamente isso implicaria? Além disso, o professor Kohak era o
número um da nação — ou melhor, o cientista mais famoso dali.
Ele era o tesouro mais precioso da Nação Miruki. Sob a direção do
presidente Miruki, o professor desenvolveu e construiu uma variedade
de instalações culturais. Executá-lo equivalia a um ato de
suicídio por parte do Estado. Quem iria continuar o trabalho do
professor agora que ele se foi? Que terrível e impensada sentença
de morte. No futuro, o que seria dos androides que eles estiveram
desenvolvendo, que já consumiram uma grande porção do orçamento
nacional? Os pupilos do professor sentiram como se o chão houvesse
cedido debaixo de seus pés.
— Portanto, vice-chefe madame Bara, eu
ordeno que você acompanhe o presidente em uma inspeção completa do
setor Alishia, onde o professor Kohak estava designado. Você deve
começar essa tarefa agora.
Bara sentiu um toque de alegria ao ser
chamada de vice-chefe, mesmo sem nenhuma vontade de conduzir o
presidente através do setor Alishia.
Mas uma ordem era uma ordem. Ela não
teve escolha, portanto começou a guiar o grupo que acompanhava o
presidente Miruki por cada sala, começando pela oficina mais
próxima.
Todo o setor Alishia ficava em um único
andar, com um total de dezesseis salas de tamanhos variados. Mas o
único intimamente familiarizado com as dezesseis salas era o
professor Kohak; Bara conhecia nove delas e Penn, apenas seis. Todos
os cidadãos do mesmo setor eram autorizados por lei para conhecer
cada centímetro delas, porém o professor quebrou a convenção e
restringiu o acesso aos laboratórios baseado no nível de
autorização de cada um.
A inspeção das primeiras seis salas foi
completada sem dificuldades. Para falar a verdade, eles encontraram
coisas incomuns, mas nada muito impactante. Então Bara se virou para
o grupo e disse: — A partir da sétima sala, estão os laboratórios
focados sobretudo na pesquisa secreta sobre androides. Nós iremos
encontrar coisas estranhas, estejam preparados… — alertou.
Eles entraram na sétima sala, onde se
via muitas máquinas de larga escala, lado a lado como árvores em
uma floresta. Todas elas continham um motor de decomposição nuclear
alimentado por raios cósmicos artificiais. Suas unidades eram
organizadas em 24 eixos, cada um conectado a vários cabos de
energia, alimentados através de transformadores. Uma parede da sala
estava coberta de cabos amontoados — parecia um tecido de malha
visto através de um microscópio. A completa ausência de som deu
uma grave impressão de estarem no fundo do oceano, tornando o
ambiente perturbador.
Ao entrarem na oitava sala, um lugar que
poderia ser chamado de museu de autômatos, encontraram armazenados
espécimes utilizados como referência. Todas as variedades de
autômatos criados pelo homem, a partir do século IV a.C., podiam
ser vistos. Havia cerca de setecentos modelos: engenhocas parecidas
com marionetes e guerreiros armados, até unidades controladas por
rádio construídas com um interruptor eletromecânico, e modelos com
uma extraordinária aparência quase humana, com pele artificial.
Esses espécimes de autômato olhavam eterna e fixamente para o teto,
com expressões estranhas em seus rostos, e o lugar estava
abarrotado, como um salão de múmias.
Penn observava com os olhos arregalados,
enquanto apertava as mãos, claramente desconfortável com a
estranheza dessas salas que ele via pela primeira vez.
— Esta é a nona sala. As coisas vão
ficar um pouco barulhentas aqui — Bara disse, como se fosse uma
guia turística.
O presidente Miruki e a secretária
trocaram olhares ansiosos, mas um momento depois eles ergueram seus
peitos e ombros, na tentativa de parecer corajosos frente à porta da
nona sala.
Apesar de ter prometido guiar o grupo,
por alguma razão, Bara hesitou em abrir a porta. A secretária Asari
percebeu isso no mesmo instante e ficou histérica, como de costume.
— Perder tempo aqui é inútil. Abra
essa sala agora mesmo! — madame Asari disse, enquanto encarava
Bara.
Mesmo assim, a hesitação de Bara
persistiu; ela pegou um lenço e passou em sua testa suada. Penn
ficou preocupado quando viu o comportamento de Bara e se afastou da
porta.
A face da secretária se avermelhou aos
poucos, conforme a raiva borbulhava dentro dela.
— Então você não irá abrir a porta.
Bem, se você não abrir, eu vou! Mas é bom se preparar para a
punição.
Assim que a secretária estava prestes a
abrir a porta, Bara pulou na frente dela.
— Isso… é perigoso. Por favor, pare.
Se você a abrir agora, ela vai explodir!
Juza Unno, in A última transmissão
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