domingo, 18 de julho de 2021

Devagar e sempre

Por muito tempo eu não soube a velocidade de crescimento das árvores. Na nossa reserva, as faias jovens têm entre 1 e 2 metros de altura. Antigamente, eu teria dito que a idade delas seria no máximo 10 anos. No entanto, quando comecei a estudar os mistérios que iam além da exploração florestal, passei a fazer observações mais atentas. É possível descobrir a idade de faias mais jovens pelos nós que se encontram nos galhos, pequenos engrossamentos que lembram uma sequência de pregas finas. Todo ano eles se formam embaixo dos botões e acabam ficando para trás quando estes eclodem na primavera seguinte e os galhos crescem. Ano após ano isso se repete. Assim, o número de nós equivale à idade da árvore. Quando o galho engrossa mais que 3 milímetros, os nós desaparecem por baixo da casca que se expande.
Ao examinar faias jovens, descobri que um galho de 20 centímetros apresenta 25 desses pontos de engrossamento. Nesse curto espaço não havia mais nenhuma indicação de idade, mas, quando fiz uma projeção da idade total da árvore a partir da idade do galho, concluí que ela devia ter pelo menos 80 anos. Na época isso me pareceu incrível, até que passei a estudar as florestas antigas e descobri que isso é totalmente normal.
As árvores jovens desejam crescer rápido, e para elas não é problema algum fazer um estirão de meio metro por estação. No entanto, as mães não gostam muito da ideia: cobrem as mudas com suas copas imensas e, ajudadas por outras adultas, formam um teto denso sobre a floresta, deixando passar apenas 3% da luz do sol, que incidirá no solo ou nas folhas de suas filhas. Três por cento – praticamente nada. Com essa quantidade de luz elas só conseguem realizar fotossíntese suficiente para não definhar. Não é possível realizar um crescimento contínuo ou mesmo engrossar o próprio tronco, mesmo que apenas um pouco. E também não é possível se rebelar contra essa educação rigorosa, porque elas não têm energia para isso.
Educação? Sim, pois se trata de uma medida pedagógica que visa apenas ao bem-estar das árvores jovens, e é esse o termo usado por silvicultores e engenheiros florestais. Sua forma de educar é limitando a incidência da luz na árvore jovem. Com isso, a intenção dos pais não é evitar que a própria prole conquiste a independência o mais rápido possível. A verdade é que, segundo pesquisas, o crescimento lento das árvores jovens é uma precondição para que elas alcancem uma idade avançada. Nós perdemos a noção do que de fato é velho, pois para a silvicultura moderna a idade máxima das árvores é entre 80 e 120 anos – período em que os espécimes plantados são derrubados e utilizados.
No entanto, em condições naturais, a árvore chega a essa idade com a altura de um homem adulto e a largura de um lápis. Como cresceu devagar, as células da madeira em seu interior contêm pouco ar e são minúsculas. Isso as torna flexíveis e resistentes a rupturas em caso de tempestades. O mais importante de tudo, porém, é que a ausência de ar na célula aumenta sua resistência a fungos, que não conseguem se espalhar pelo tronco. A árvore que passa por esse processo tampa facilmente suas feridas com a casca antes de surgir qualquer ponto de apodrecimento.
Uma boa educação é garantia de uma vida longa, mas às vezes a paciência das mudas se esgota. Como mencionei no Capítulo 5, os frutos da faia e do carvalho caem aos pés da árvore-mãe. A Dra. Suzanne Simard, que ajudou a descobrir o instinto maternal das árvores, descreve as árvores-mães como espécimes dominantes ligados a outras árvores pelas conexões entre raízes. Essas árvores transmitem seu legado para a geração seguinte e influenciam a criação das árvores jovens. Na nossa floresta há faias jovens, que já aguardam há pelo menos 80 anos debaixo da progenitora de cerca de 200 anos (convertendo para o padrão humano, 40 anos). Possivelmente a espera durará mais 200 anos até terem a chance de crescer. No entanto, essa espera não é tão ruim: as árvores-mães estão em contato com as filhas pelas raízes e lhes fornecem açúcar e outros nutrientes. Podemos dizer que as árvores são amamentadas.
É possível descobrir por conta própria se a árvore se encontra em estado de espera ou se já tem condições de crescer com rapidez. Para isso, no caso de um abeto-branco ou uma faia, basta observar os galhos. Se o crescimento lateral for visivelmente maior que o vertical, é sinal de que ela está em modo de espera, pois o sol que a árvore tem recebido não basta para formar um tronco maior. Sua saída, portanto, é tentar captar os poucos raios que chegam a ela da maneira mais eficaz possível. Assim, estendem seus galhos perpendicularmente e desenvolvem folhas e agulhas (folhas com formato de agulha, típicas de árvores coníferas) adaptadas para a sombra, mais finas e sensíveis. Em geral não se consegue ver o broto principal nesses espécimes; eles lembram mais um bonsai de copa achatada.
Mas um dia a espera acaba. A mãe alcança a idade-limite ou adoece. Então, uma tempestade de verão pode dar fim a essa história. Sob a forte chuva, o tronco apodrecido não consegue mais aguentar as toneladas de peso da copa e se quebra. Quando cai, acaba matando algumas das mudas que aguardavam para crescer. A abertura que surge no dossel de folhas funciona como um sinal de largada para as árvores jovens que sobrevivem à queda da mãe, pois agora elas podem realizar a fotossíntese a todo o vapor. Com isso, o metabolismo precisa mudar, e elas devem passar a formar folhas e agulhas que recebam e processem a luz mais intensa. Esse processo dura entre um e três anos. Ao fim do período de formação, todas as árvores jovens desejam começar a crescer, e apenas as que crescerem direto para cima e sem titubear permanecerão na corrida. A árvore que crescer lateralmente ou demorar para crescer para cima será ultrapassada pelas outras e voltará a ficar à sombra. A diferença é que ficarão sob as folhas das mudas que as ultrapassaram, onde é ainda mais escuro do que antes, pois as árvores jovens consomem a maior parte da luz fraca que chega. Por isso, as que ficam para trás morrem e se transformam em húmus.
Enquanto elas crescem surgem outros perigos. A luz do sol estimula a fotossíntese e promove o crescimento da árvore, e os botões das mudas passam a receber mais açúcar. No período de espera, eram duras e amargas, mas com a mudança se tornam deliciosas para os cervos, que comem parte das árvores a fim de sobreviver ao inverno. Mas, como a quantidade de brotos é gigantesca, um número suficiente acaba vingando.
As plantas floríferas também tentam se aproveitar das áreas que recebem maior incidência de luz por alguns anos, como a madressilva. Usando suas gavinhas (um apêndice usado por plantas para se ligar a outras), ela escala o tronco se enroscando para a direita, no sentido horário, no mesmo ritmo de crescimento que a muda de árvore, e expõe suas flores ao sol.
Contudo, com o passar dos anos, suas gavinhas penetram a casca da árvore e aos poucos a estrangulam. Nesse momento a sorte entra em jogo: se o teto formado pelas copas das árvores mais velhas voltar a se fechar por um tempo, a sombra retornará e a madressilva morrerá, deixando apenas cicatrizes. Mas, se a clareira permanecer por mais tempo (talvez porque a árvore-mãe que morreu era muito grande e abriu uma lacuna correspondente), a madressilva continuará crescendo, e a árvore jovem poderá ser sufocada.
A árvore que vence todos os obstáculos e continua crescendo com saúde terá a próxima prova de paciência em, no máximo, 20 anos, tempo para as vizinhas da árvore-mãe que morreu estenderem seus galhos e ocuparem a lacuna. Com isso, também ganham um pouco de espaço para realizar mais fotossíntese na velhice e ampliar a copa. Quando o andar de cima for totalmente ocupado, o andar de baixo voltará a ficar no breu. A essa altura os espécimes jovens de faias, abetos ou pinheiros já percorreram metade do caminho, porém mais uma vez vão ter que esperar até uma de suas grandes vizinhas morrer. Isso pode levar muitas décadas, mas a essa altura a sorte delas já está lançada. Os espécimes que alcançam esse estágio intermediário não são mais ameaçados pelos concorrentes. São os próximos na linha sucessória.

Peter Wollheben, in A vida secreta das árvores: O que elas sentem e como se comunicam

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