Era uma vez um boi nos telhados de Paris.
Ninguém não falava a língua dele mas
todo mundo nos bistrôs ó que delícia
exótica, de modo que ele achava sorte
estar na boca de um povo tão iguaria.
Via os casacos de pele das mademoiselles
e achava bem que vistoso, nem desconfiava
que triste que é o destino dos bichos.
Uma feita ele cantou vem mulata vem
comigo vamos ver o Carnaval eu quero
gozar contigo esta festa sem rival o povo
todo dançou a francesada dizia van-
guarda vanguarda! Aquilo tudo era novo
nos olhos do tempo antigo das gentes que
só sabiam boi no pasto, nunca no coco
dos telhados dançando tango e maxixe.
Uns achavam de mau gosto, outros
genial boi assim boi sem lei que nem
flor-de-lis que nem sabiá. Boi êh boi
nos telhados de Paris! Vai que um dia
pegaram ele cortaram ele comeram carne
moeram osso, formiga não tem caroço,
botija não tem pescoço, depois do
pasto,
cantaram sinfonia, fizeram uma poesia.
Êh Paris! Noite azul de estrelas no rio
de Londres.
Era uma vez um boi, era uma vez um
século.
Que me diz, seu perdiz? Digo nada, nunca
mais.
Quem conta história de dia cria rabo de
cotia.
Eucanaã Ferraz
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