sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Sangue do meu sangue

A pulga que picou Murilo Mendes
veio pular aqui, na minha rede;
não me perguntem como adivinhá-la,
não há ciência mas eu sei que é ela;

decerto mais vetusta que Murilo,
à sombra das pirâmides do Egito,
picara escribas, sacerdotes, putas,
saltando sobre as altas sepulturas;

para mim é uma honra e uma alegria
pulga assim, tão velha e tão distinta,
sugar-me o sangue e no seu sangue-síntese
juntar-me a tanto e, por conseguinte,

ó ectoparasita hematófago,
o teu salto há de ser minha metáfora
para dizer tudo o que sei do nada
que sei de nossa pouca eternidade.

Eucanaã Ferraz

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